Supermercados vendem frutas produzidas mediante formas inaceitáveis de trabalho.
Nos últimos meses, líderes internacionais externaram preocupações com o futuro da Amazônia e com as mudanças climáticas que ameaçam a vida humana no planeta. Os gestos são nobres. Há que diferenciar a retórica da prática cotidiana.
Ocorre uma abissal contradição entre a preocupação com o futuro e a ação prática do que se passa no presente. A estratégia é conhecida: jogar a preocupação para o futuro e, no presente, manter a escalada predatória em nome de supostas urgências: crescimento econômico, geração de empregos, bem-estar social.
Já foi abordado nesse espaço: empresas sediadas na Europa e Estados Unidos financiam o desmatamento dos biomas brasileiros. Gigantes norte-americanos e europeus, de diferentes setores da economia, bancam as motosserras que colocam a floresta abaixo.
Surge agora uma nova e grave denúncia, novamente envolvendo empresas dos países desenvolvidos. Segundo relatório da Oxfam Brasil, divulgado semana passada, supermercados sediados na Europa e nos Estados Unidos vendem frutas brasileiras produzidas mediante formas inaceitáveis de trabalho.
São as redes Carrefour, Pão de Açúcar e Big/Walmart, também conhecidas do público brasileiro.
É uma cadeia produtiva que envolve grandes exportadoras de frutas que operam nas terras irrigadas do Nordeste brasileiro. Ali, as empresas violam direitos humanos, poluem o meio ambiente e contaminam trabalhadores com altas doses de agrotóxicos, segundo o documento da Oxfam Brasil.
Os depoimentos são estarrecedores. Recomendo a leitura do relatório completo, neste link.
Eu mesmo conversei pessoalmente com algumas das vítimas, homens e mulheres empregados da fruticultura. Participei da equipe de jornalistas que investigou os elos entre as violações que ocorrem no campo e o financiamento que sai de três redes globais de supermercados.
Essas três redes controlam uma importante parcela da venda de frutas em diversos países. São elas que têm a força para promover mudanças e pressionar os grandes produtores. O objetivo é estancar a violação de direitos, promover uma renda digna e parar com a contaminação de trabalhadores por altas doses de venenos.
Os supermercados vendem, para nós, frutas caras e em perfeito estado de conservação. Mas não nos avisam que essas frutas foram obtidas mediante o sofrimento de trabalhadoras e trabalhadores. O momento de mudar é agora, com a ajuda das grandes redes de supermercados. Para isso, Carrefour, Pão de Açúcar e Big/Walmart precisam fazer as coisas acontecerem.
Edição: João Paulo Soares