A política de segurança pública do governo do estado do Rio de Janeiro tem sido alvo constante de questionamento de moradores de favelas e organizações de direitos humanos. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que de janeiro a julho de 2019, 1.075 pessoas morreram vítimas de intervenção policial, um aumento de 19,6% se comparado com o ano anterior.
Para o vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e interlocução sócio-popular da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), André Barros, a política de segurança do estado do Rio, que tem como alvo o combate ao tráfico de drogas, é limitada e não atinge o cerne do problema.
“O que é o combate do tráfico na favela? É o combate no varejo, são garotos que vendem pequenas mutucas de maconha ou pinos de cocaína. Então, a gente tem que dizer que esse discurso de combate ao tráfico de drogas no varejo da favela é mentira, é um mercado como cerveja, cigarro, seria a mesma coisa se a cerveja fosse proibida e eles quisessem combater a venda da cerveja em cima do camelô de isopor e não nas indústrias que produzem a cerveja. Isso não tem combate de tráfico de drogas nenhum. Isso é uma farsa, uma mentira, uma política racista de estado”, destaca Barros.
No final do mês passado a menina Ágatha Félix, de oito anos, morreu atingida por fragmentos de um tiro de fuzil nas costas, durante uma ação da Polícia Militar, enquanto voltava para casa com a mãe dentro de uma kombi no Complexo do Alemão. Segundo a plataforma Fogo Cruzado, Ágatha tornou-se a 16° criança vítima da violência armada no Grande Rio, e a quinta que não sobreviveu.
Diante do aumento do número de casos de mortes em conflitos armados na periferia, movimentos populares e coletivos de favela criaram o “Parem de nos matar”, uma iniciativa que denuncia a violência provocada por ações policiais e militares nas comunidades. Para o líder comunitário da Rocinha Antonio Ferreira de Melo, conhecido como Xaolin da Rocinha, a organização é a única saída para frear a política de segurança do estado do Rio.
“Consideramos que isso é política de estado e sendo política de estado o enfrentamento tem que ser a partir da organização. No início morriam inocentes e as pessoas iam queimar um ônibus, depois morria inocente novamente e as pessoas eram esculachadas pela polícia com bomba de gás lacrimogênio e cassetete, agora, a terceira fase, é de organização, lideranças, frentes de favelas para que possamos mudar essa política de extrema direita de segurança pública”, afirma.
Edição: Mariana Pitasse