A história a seguir é um fato verídico que acontece no futuro
Mesmo que você não tenha afinidade com os conceitos de Albert Einstein, sobre a relatividade do espaço-tempo, não se preocupe. A história a seguir é simples; um fato verídico que acontece no futuro: a libertação de Lula graças a uma invasão de bodes em Brasília.
Bodes? Como pode ser verídico se ainda não aconteceu?
Calma, você não entende nada de física teórica. Eu mesmo presenciei os episódios. No final, Lula sai da cadeia por causa de milhares de bodes que invadiram Brasília.
Não se preocupe em separar passado e futuro. Essa questão foi resolvida há muito tempo pelo escritor da narrativa fantástica Jorge Luis Borges. Com uma frase lacradora, proferida antes mesmo da invenção do Twitter, Borges explicou a relatividade: “O tempo não existe. É uma convenção.”
Einstein disse isso. Cazuza disse isso em sua poesia musicada. Ao disparar contra o sol e ver que o futuro é a repetição do passado, Cazuza entendeu tudo.
Vamos aos fatos
Em um sábado de outubro de 2002, fazia um sol de rachar no sítio do Lula, em São Bernardo do Campo. Sim, Lula é dono de um sítio em São Bernardo.
Nesse sábado, faltava pouco para o segundo turno das eleições. Lula estava com uns amigos, comendo galinhada e bebendo cachaça.
Logo cedo, Marisa havia decretado: é proibido falar de política. E aí, é claro, todos ficaram sem assunto. Mas logo a conversa engrenou novamente e começaram a falar nos bodes que o Lula tinha no sítio, em um cercadinho.
Disse Lula:
-- Sabe, tem uma coisa que às vezes eu fico imaginando... São esses bodes que eu tenho aqui na chácara, essa meia dúzia de bodes naquele cercadinho.
Abriu os braços e fez um movimento amplo, como a libertar os bodes do pequeno curral.
-- Eu fico pensando nesses bodes. Marisa, você consegue imaginar esses bodes pastando naquele gramado que tem em volta do Palácio do Planalto? Aquela graminha verde que tem em volta da casa do presidente?
Marisa não disse nada. Lula aumentou o volume do som, pegou um violão e caminhou até a rede.
Eu me agarrei na garrafa de cachaça e fui ao cercadinho olhar os bodes. Resultou em um artigo, escrito naquele mesmo ano.
Lula acabou sendo eleito, mas nunca levou os bodes para Brasília. Foi um erro, só corrigido 17 anos depois, pelos próprios bodes, que invadiram a capital.
Sem Lula perceber, os bodes escaparam do cercadinho e começaram, por conta própria, a empreender uma viagem épica. Demoraram incríveis 17 anos para cruzar o país. Viajaram pelo interior, pelos povoados e vilarejos. Foi aquela loucura: a cada parada, uma festa que durava vários dias: “Os bodes do Lula estão na cidade”.
Os bodes morreram, nasceram, se reproduziram pelo caminho. Há relatos de que apenas um velho bode pertence ao grupo original.
Em datas espaçadas, a partir de outubro de 2019, os bodes começaram a chegar a Brasília, em comitivas que foram crescendo ao longo do trecho. Em dado momento, mais de 30 mil bodes, cabras e cabritos pastavam nos gramados das superquadras.
Os bodes ocuparam até o gramado em frente ao Supremo Tribunal Federal. Vocês não fazem ideia do fedor que saia de lá.
Sim, porque nessa mesma época, um fedor tomou conta de Brasília. A capital se tornou um ambiente tóxico.
Todo mundo passou atribuir a fedentina aos bodes. Mas isso é mentira. A Polícia Federal descobriu que o fedor começara bem antes da chegada dos bodes. O cheiro primordial começou no dia 2 de fevereiro de 2019. Partiu, segundo os investigadores, das axilas do então recém-empossado ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Outros relatos, publicados em jornais a partir de fonte anônima, dizem que o fedor veio depois, de um cano de esgoto estourado, quase sem querer, por um estrangeiro, um tal de Glenn não sei das quantas. Os relatos são conflitantes.
Um dia, ainda achando que os bodes eram os causadores do mau cheiro, um grupo de supremos juízes, com fezes até o joelho em um salão alagado de merda, anunciou que Lula seria solto, na tentativa de conter a podridão, controlar os bodes, voltar a vida ao normal.
Todos queriam as suas vidas de volta.
Lula acabou saindo da cadeia. Os bodes foram inocentados. Antes de partir, Cazuza havia deixado a senha para entender o fedor que tomou conta da capital, trinta anos depois: “A burguesia fede”, cantou o poeta, nos estertores da morte (Burguesia, 1989).
Lá se vão mais de 30 anos. Lula foi eleito, foi preso, os bodes escaparam. Lula foi solto, os bodes nunca mais foram vistos. O mundo mudou. A única coisa que não mudou foi a burguesia e a TV Globo. Continuam exalando mau cheiro país afora. Nem a física quântica explica.
Edição: Daniel Giovanaz