Rio de Janeiro

RESPOSTA

"Wilson Witzel disse que está no caminho certo e não está", critica tia de Ágatha

Para Daniele Félix, essa não é a primeira e não será a última tragédia se a política de segurança permanecer a mesma

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Daniele e a sobrinha Ágatha, que morreu na última sexta-feira (20), ao ser baleada por um tiro de fuzil, no Complexo Alemão, no Rio
Daniele e a sobrinha Ágatha, que morreu na última sexta-feira (20), ao ser baleada por um tiro de fuzil, no Complexo Alemão, no Rio - Reprodução/Redes sociais

Os pais e familiares de Ágatha Vitória Sales Félix, de oito anos, estão indignados com declarações dadas nos últimos dias pelo vice-presidente da República, General Hamilton Mourão. A menina foi atingida e morreu na última sexta-feira (20), no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, dentro de uma kombi acompanhada pela mãe. Testemunhas afirmam que não havia nenhum confronto na hora e no local dos disparos feitos por policiais militares. Segundo Mourão, no entanto, "é a palavra de um contra o outro".

Em entrevista ao Brasil de Fato, a tia da Ágatha, Daniele Félix, disse que a política de segurança implementada pelo governador Wilson Witzel (PSC) é fracassada e atinge os moradores que não tem nenhum tipo de relação com o tráfico de drogas. Ela contou que a Unidade de Polícia Pacificadora do Alemão (UPP) está lá há 10 anos e até agora nada mudou para melhor. "O Estado precisa entrar na comunidade com educação, ação social, saúde, lazer, e não com armas", criticou Daniele. Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato: Como a família tem conseguido superar a dor da perda da Ágatha?

Daniele Félix: Estamos tentando arrumar forças para resistir a tudo isso. É difícil para nós, para a mãe, para o pai. Ágatha era filha única, planejada, muito amada, tudo era feito pra ela. Hoje, a gente lembra do sorriso dela pra conseguir juntar essas forças e continuar vivendo, a gente pensa nas alegrias que ela nos deu, na educação que ela teve, da menina que ela era, com notas boas na escola. Nossa força vem de pensar que nós da família fizemos o melhor por ela.

O motorista da kombi onde estavam Ágatha e a mãe conversou com vocês?

Ele é um conhecido nosso, trabalha dirigindo kombis há muito tempo. Ele e a mãe da Ágatha viram que só haviam policiais ali no momento dos tiros. Não tinha confronto nenhum, não houve nenhum ataque à polícia. O que houve foram os disparos da parte de um policial daquela localidade, eles têm base em um cruzamento dali. 

Algumas autoridades contradizem a versão de que só havia policiais...

Eles nem estavam aqui. O vice-presidente [da República, Hamilton Mourão] falou que é a palavra da polícia contra a palavra da família. A família estava aqui. Se tivesse ataque ou confronto, todos saberíamos, moramos aqui dentro. A nossa palavra, a palavra da família da Ágatha, nem deveria ser questionada. Os policiais, quando fazem a besteira, devem ter consciência e admitir o erro, "está aqui a minha arma, aconteceu isso e isso". Mas o que acontece é que um acoberta o outro, dão as mãos e escondem a bagunça que eles fizeram. 

Como a população do Complexo do Alemão vê esse tipo de ação da polícia?

Essa política de chegar atirando nunca vai dar certo. O Estado precisa entrar na comunidade com educação, ação social, saúde, lazer e não com armas. A UPP está aqui dentro há quase uma década e eu, que moro aqui há 24 anos, não vi nada mudar. Pelo contrário, piorou. Hoje, temos dois lados e os moradores no meio como reféns dessa tal política de segurança pública. O governador Wilson Witzel (PSC) disse que está no caminho certo. Não está. Se uma criança de oito anos leva um tiro e morre, não está no caminho certo. Os policiais precisam ser preparados para lidar com a comunidade. Nem todo mundo que está aqui é traficante ou familiar de traficante. Quase ninguém, a maioria aqui, não é conivente com o tráfico de drogas. Ágatha levou um tiro voltando de um passeio com a mãe, isso poderia ter acontecido comigo ou com meu filho.

O que vocês gostariam de pedir às autoridades públicas?

Pedimos que essa política de segurança mude, porque isso não está certo. Não sei qual é a política de segurança certa, mas essa que está acontecendo no Rio de Janeiro e aqui dentro não é. Não é a primeira, não é a segunda nem será a última vez que isso acontece, se essa forma de governar continuar como está. E pedimos que a justiça seja feita e que as coisas sejam apuradas de forma correta.

Edição: Mariana Pitasse