A apenas cinco meses do carnaval carioca, o clima nos barracões das escolas de samba da Série A, equivalente ao Grupo de Acesso, ainda é de indefinição. Em agosto, o prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB) afirmou que não destinará verba pública para eventos que cobrem ingressos. A decisão atingiu em cheio agremiações que dependem da verba municipal para a produção dos desfiles na Marquês de Sapucaí.
Na tentativa de retomar o diálogo e garantir a subvenção, a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lierj), associação representativa da Série A, disse à prefeitura que abre mão da venda dos ingressos na arquibancadas na sexta e no sábado. Se por um lado o Grupo Especial tem mais visibilidade na mídia e dispõe de patrocínios da iniciativa privada, a verba da prefeitura corresponde a cerca de 80% do orçamento total das escolas de samba no Grupo de Acesso.
Sem perspectiva e com muitas incertezas, a Unidos de Padre Miguel (UPM), localizada na comunidade da Vila Vintém, na zona oeste do Rio, reduziu pela metade os funcionários no barracão. Agora, apenas quatro pessoas dão conta das fantasias e adereços para o cortejo. Cicero Costa, diretor de carnaval da UPM, relata a preocupação com o atraso na produção do desfile que leva para a avenida em 2020 o enredo “Ginga”, sobre a história e a cultura da capoeira.
“Com esse corte que ele [Crivella] disse que não vai dar nada, as escolas estão sem saber o que fazer. Tem muitas escolas paradas porque não sabem quando vai vir a verba da prefeitura. O barracão está parado, só agora estamos começando a fazer protótipo das fantasias mas o processo está lento. Carro alegórico nada, situação está difícil. Como vamos começar um projeto sem saber se vai ter dinheiro ou não vai?”, questiona Costa que também é diretor de carnaval da Lierj.
Após uma série de cortes desde 2016, cada escola do Grupo de Acesso recebeu cerca de R$ 200 mil da prefeitura no ano passado. Antes, o valor chegava a R$ 800 mil. Cicero Costa, que também é diretor de carnaval da Lierj, também reclama sobre o atraso da subvenção, que é historicamente depositado muito depois da festa e prejudica o planejamento das escolas, especialmente as mais humildes.
Questionada sobre a viabilidade da abertura dos portões da Sapucaí no desfile da Série A, a RioTur se limitou a informar que as reuniões ainda estão em andamento. A Lierj se mostrou otimista com a negociação e espera desfilar sem cobrar ingressos e solucionar o impasse sobre o corte de verbas.
Lei de Incentivo à Cultura
Além da prefeitura do Rio, a Lierj também está recorrendo ao governo do estado em busca de recursos. O Secretário de Cultura e Economia Criativa do Rio Ruan Fernandes Lira vê com bons olhos a gratuidade no Sambódromo, mas defende um estudo “de maneira criteriosa entre todas as lideranças que organizam a festa”.
“Carnaval é Cultura, é geração de negócios e entendemos que viabilizar a realização do maior espetáculo do planeta é gerar oportunidades infinitas de negócio, turismo e lazer para o Estado como um todo. Temos total intenção de continuar dando suporte via Lei de Incentivo à Cultura, porque entendemos a importância do Carnaval para nossa economia”, afirmou em nota.
Edição: Vivian Virissimo