Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

PM dispara tiros de helicóptero durante operação no Complexo do Alemão (RJ)

Polícia comandada pelo governador Wilson Witzel já é responsável por 30% de todas as mortes violentas no estado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Disparos feitos de helicóptero afetaram a vida de trabalhadores, crianças e de quem precisava de atendimento médico
Disparos feitos de helicóptero afetaram a vida de trabalhadores, crianças e de quem precisava de atendimento médico - Reprodução/Voz das Comunidades

Moradores do Complexo do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, acordaram com os disparos feitos por agentes durante sobrevoo de um helicóptero da Polícia Militar, nesta quarta-feira (18), em uma operação que matou seis pessoas. No Twitter, a PM informou apenas que se tratou de uma ação para coibir o tráfico de drogas. Após a operação, porém, o governo do estado e a polícia não se manifestaram.

As ações que atingem moradores de favelas aumentaram desde que Wilson Witzel (PSC) assumiu o governo do estado, no início de 2019. Durante a manhã desta quarta-feira (18), trabalhadores não puderam sair de casa, enquanto escolas e creches foram fechadas, deixando crianças, funcionários e pais em pânico. A Clínica da Família Bibi Vogel também foi fechada. Imagens do caos instaurado pelo estado circularam nas redes sociais.

Deputada estadual responsável por denunciar Witzel por crimes contra a humanidade na Organização das Nações Unidas (ONU), Renata Souza (Psol) disse que o helicóptero foi usado como plataforma de tiro e compartilhou vídeos feitos por moradores. “Só quem vive isso sabe o dano psicológico causado por essa guerra insana. Se isso não lhe causa indignação, é porque perdeu a sua humanidade para a barbárie”, comentou a parlamentar.

Na última segunda-feira (16), agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) invadiram a sede de um curso pré-vestibular, o Núcleo Independente Comunitário de Alfabetização (NICA), na favela do Jacarezinho. Durante a operação, os policiais arrombaram portas e reviraram todo o material escolar da instituição. As aulas precisaram ser suspensas para a contabilização dos prejuízos causados.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o cientista social Pablo Nunes, que é coordenador de pesquisa do Observatório da Intervenção, grupo vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse que o aumento das operações no governo Witzel não reduziu índices de violência. Nunes também chamou a atenção para a escalada de mortes provocadas por policiais nos últimos meses.

“Nesse ano, houve aumento de 23% das operações policiais na capital, mas isso não teve impacto positivo, apenas fez aumentar os crimes que assolam a população mais pobre. E o estado do Rio teve aumento de 30% das mortes violentas com autoria de policiais. Esse contexto não é aceitável em nenhum lugar do mundo. Há estudos de que quando esse número ultrapassa os 10% de toda letalidade violenta, há aí um claro sinal de excessos e até de execuções praticadas por agentes de segurança”, afirma o pesquisador.

Invasões

Na página do jornal comunitário Voz das Comunidades, moradores também relataram invasão de casas nesta quarta-feira (18). O jornal chegou a lembrar um dos trechos do artigo 5º da Constituição Federal, que afirma que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) também compartilhou vídeos da operação e comentou nas redes sociais. “As favelas não estão em guerra. O que está acontecendo é um extermínio. Essa tática de sufocar as favelas é velha e não funciona, só traz caos, terror e morte aos moradores. Exigimos ajuda humanitária, temos direito à vida”, disse na publicação. 

Edição: Mariana Pitasse