Trabalhadoras e trabalhadores dos Correios decidiram, nesta semana, entrar em greve por tempo indeterminado. Segundo os sindicatos, os trabalhadores lutam pela manutenção de direitos, reajuste salarial e também contra o projeto de privatização da estatal.
Para saber mais sobre a greve, o programa Brasil de Fato RJ conversou com Ronaldo Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro (Sintect-RJ). A decisão foi tomada em uma assembleia que reuniu mais de cinco mil trabalhadores.
Confira os melhores momentos da conversa:
Brasil de Fato: Que direitos dos trabalhadores estão sendo ameaçados nesse momento?
Ronaldo Martins: A gente teve a nossa data-base em agosto e a empresa adotou uma postura incomum. Não sei se foi em virtude do posicionamento do governo, mas foi tudo muito estranho na mesa de negociação. A empresa demorou a sentar à mesa, a fazer proposta e na segunda rodada passou a apresentar proposta de retirar benefícios que nós já havíamos conquistado durante os anos de acordo coletivo do trabalho.
O movimento de trabalhadores a nível nacional, as federações e os sindicatos, queríamos a manutenção dos benefícios que estão em vigor e a reposição da inflação. Mas, estranhamente, a empresa passou a propor o aumento da mensalidade do plano de saúde, retirar benefício como o tíquete alimentação e outros adicionais dos trabalhadores da madrugada, por exemplo. No final, a empresa apresentou a proposta de 0,8% [a inflação do período foi de 3%] e isso foi muito ruim. Além disso, começou a proposta do governo de privatização da empresa e isso gerou uma ansiedade porque os Correios é uma empresa autossuficiente, não depende do dinheiro do governo, muito pelo contrário.
A empresa tem um papel social muito importante no país. Este ano, completou 356 anos de vida, vem desde o Brasil Colônia. Já participamos de campanha de amamentação, vacinação, entrega de livros escolares, urnas eletrônicas... E os Correios estão em todos os municípios do Brasil. No Amazonas ou no Chuí existe uma agência e um servidor. Emprega 105 mil trabalhadores de forma direta, é a maior empregadora do país, e logo nesse momento de crise de emprego grande, surge uma proposta de privatizar empresa e retirar direitos. Isso causou uma mobilização que há muito não se via na classe trabalhadora a nível nacional.
Na noite de terça-feira (10), no bairro Cidade Nova, tivemos uma grande assembleia representativa, vieram trabalhadores de todos os locais do estado do Rio de Janeiro, de Campos dos Goytacazes, Itaperuna, Rezende, Petrópolis, Teresópolis, e tivemos esse encaminhamento da greve.
De que maneira essa privatização pode prejudicar os funcionários e de que forma a população pode ser afetada? Uma empresa privada não vai ter interesse em chegar onde não há lucro, não é?
Participei de um fórum no Uruguai sobre os Correios do mundo e os relatos foram unânimes em afirmar que onde houve privatização a qualidade do serviço caiu de forma drástica. Porque as empresas privadas de encomenda começaram a só entregar em capitais e deixaram de prestar o serviço em locais longínquos. É importante salientar que os Correios não tem monopólio das encomendas no país, inclusive, as empresas concorrentes postam nos Correios para entregar nas periferias, por exemplo.
Os trabalhadores ficam muito aflitos, não tem concurso público desde 2011. Então, a maioria dos empregados tem 10, 15 anos e tem seu sustento familiar na empresa. Eu tenho 27 anos, outros tem 28, 30 anos. Então, quando se fala em privatização da empresa, significa retirada de direitos e demissão em massa. É o que ocorreu com outras empresas públicas. A gente não entende porque colocar os Correios na agenda de privatização, uma empresa que é autossustentável.
Há previsão para encerrar a greve, quais são os próximos passos e qual recado deixa para os ouvintes e leitores do Brasil de Fato?
A empresa ajuizou dissídio e deve ter conciliação depois do julgamento. Nós entendemos que deve resolver em 6 ou 7 dias. Queremos falar para a população que confie nos Correios, nos trabalhadores. Queremos um Brasil soberano, igualitário, que seja para todos, estamos lutando para que possamos melhorar o serviço postal no Brasil. Os Correios sempre tiveram excelência na entrega, a relação do carteiro com o destinatário, sempre foi muito lúdica, carinhosa e afetiva com o povo brasileiro. E queremos resgatar isso.
Edição: Vivian Virissimo | Entrevista: Denise Viola