Mas no Brasil atual, os mandantes têm ódio à cultura, às artes, à inteligência
Hoje vou falar de umas palavras que a gente usa sem pensar como elas surgiram.
Começo por aquele tecido esterilizado, usado em curativos. Chama-se gaze. Mas por que tem esse nome?
É que ele é muito parecido com um tecido leve e transparente, que antigamente só era fabricado na cidade de Gaza, capital da Faixa de Gaza, habitada por palestinos.
Outra palavra é cucuia. Uma das formas de dizer que alguém morreu é “foi pra cucuia”.
Cucuia era nome de um morro da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Lá foi construído um cemitério, então ir pra cucuia era mesmo ir para o cemitério.
E tem a palavra araponga, nome de um pássaro que emite um som que parece o de um martelo batendo numa bigorna. Por isso é também chamado de “ferreiro”. No Paraguai, é conhecido como “pájaro campana”, quer dizer, “pássaro sino”.
Mas a palavra araponga é usada há algum tempo no Brasil para falar de uma coisa que não tem nada a ver com essa ave: é como chamamos um cara colocado pela polícia para dedurar pessoas de um grupo, ou um detetive trapalhão.
O motivo do uso dessa palavra é bem conhecido: uma novela de Dias Gomes, em parceria com outros escritores, em 1990 e 91, intitulada “Araponga”, tinha como personagem principal um espião trapalhão, ex-agente dos órgãos de repressão da ditadura.
Ele imitava os filmes de 007 em que o agente secreto, James Bond, se apresentava assim: “Bond, James Bond”.
Esse espião atrapalhado se apresentava como “Ponga, Ara Ponga”.
Termino com uma palavra que vai caindo de moda: mecenas.
Essa palavra é usada para falar de quem protege e patrocina artistas e intelectuais. Em alguns países, o Estado acaba praticando o mecenato, isto é, fazendo o papel de mecenas.
Foi assim no Brasil, com algumas leis de incentivo à cultura. Mas no Brasil atual, os mandantes têm ódio à cultura, às artes, à inteligência. Se depender do governo Bolsonaro e sua turma, fecham-se todas as faculdades de ciências humanas e acaba-se com quase todo tipo de arte.
Voltemos à palavra mecenas: como adquiriu o sentido que lhe damos?
Viveu em Roma, no tempo do imperador Augusto, um estadista chamado Mecenas que mantinha sua casa aberta aos artistas e homens de letras, que protegia e estimulava o talento alheio.
Enfim, nada a ver com os endinheirados e poderosos do Brasil de hoje, né? São antimecenas, são bolsonaros.
Edição: Michele Carvalho