Precisamos intensificar e qualificar nossas lutas nas grandes e médias cidades
No último período aconteceram profundas mudanças políticas no Brasil. Sem dúvida elas se deram como consequência da profunda e estrutural crise econômica pela qual passa o sistema capitalista a nível mundial.
Diante da estagnação econômica que predomina na grande parte das nações, os capitalistas internacionais disparam guerras comerciais, agravadas pela ofensiva estadunidense em tentar recompor sua hegemonia política e econômica, num contexto de surgimento de novos polos de poder no mundo.
Uma das principais condições que o capital financeiro busca intensificar, para tentar recompor suas taxas de lucro, é a exploração dos países dependentes, a partir de quatro eixos principais: intensificação da apropriação de recursos naturais, aumento da exploração da força de trabalho, apropriação de fundos e recursos dos Estados; criminalização dos pobres e das organizações de defesa social.
Desde 2014 o imperialismo estadunidense e seus aliados aumentaram esforços para restauração de seu programa ultraliberal no Brasil. O objetivo é aplicar estes quatro eixos de exploração, sendo necessário para isto esvaziar o conteúdo social da nossa democracia e debilitar a autonomia nacional, impedindo o avanço de políticas de desenvolvimento nacional.
A vitória eleitoral da candidatura de Bolsonaro consolidou um cenário desfavorável para o avanço de um projeto soberano de desenvolvimento do país. O seu êxito não foi uma casualidade, mas parte da movimentação mundial que busca atender aos interesses do setor mais radical do capital financeiro.
Este cenário impõe às organizações populares a necessidade de repensar suas táticas de luta e organização, que devem ser defensivas, mas simultaneamente trazer em seu bojo iniciativas políticas que ajudem a alterar a correlação de forças. Portanto, o fortalecimento e a ampliação da nossa força social, em especial nos grandes centros urbanos é condição necessária para passarmos para um novo patamar da luta social no Brasil.
Só com muita gente consciente e organizada será possível mudar pela raiz todas as estruturas injustas desta sociedade. Por isso devemos atentar-nos para onde vive e como vive a maior parte do povo brasileiro. Já sabemos que a maior parte da população brasileira é urbana, e isso nos dá a primeira afirmação: precisamos intensificar e qualificar nossas lutas nas grandes e médias cidades, onde mora e trabalha a grande maioria dos brasileiros.
Olhando ainda mais de perto a urbanização brasileira percebemos um recente e intenso processo metropolização do território nacional, e com isto a intensificação de problemáticas “hiperurbanas” que tem nos exigido girar nosso olhar estratégico para o espaço “metropolitano”. Mais de 54% da população brasileira mora nas chamadas Regiões Metropolitanas, que juntas somam mais de 66% do PIB nacional.
Acertando no diagnóstico, temos mais condições de acertar nas ações. Por isto nos cabe reconhecer que na sociedade brasileira atual há um certo déficit de organização popular, em especial nestas periferias urbanas. Isso não significa que não existam formas de organização do povo (por moradia, cultura, transporte, etc), mas que tais formas ainda se mostram insuficientes e fragmentadas a ponto de ainda não serem capazes de acumular a força social necessária para alterar a correlação de forças.
Acreditamos que um Projeto Popular para o Brasil, e especialmente para as cidades brasileiras, prescinde de um fortalecimento do tecido social. A elaboração teórica em torno dos nossos problemas atuais, e os caminhos de sua concretização, é um passo fundamental. Mas para sua realização, para por em marcha um Projeto Popular para o Brasil, e para as cidades do Brasil este projeto precisa estar vivo nos corações e mentes de milhares brasileiros.
Pensar uma estratégia de ampliação da força social do povo brasileiro exige desenvolver iniciativas políticas e organizativas que fortaleçam a unidade das organizações populares a partir de uma ampla aliança de todas as forças democráticas e anti-bolsonaristas; retomar o trabalho de base, especialmente nos grandes centros urbanos, fortalecendo a organização dos diversos segmentos de disputa das cidades e estimular o salto da luta estrita pela moradia, à luta pelo Direito à Cidade.
Há um caminho longo pela frente que exigirá dos lutadores e lutadoras do povo muito ânimo e esperança. Não há solução mágica. Só o povo consciente é capaz de libertar-se. O que a história nos pede é resistência e persistência.
Construiremos juntos um novo amanhecer e plantaremos juntos os frutos que colheremos no amanhã.
Edição: Daniela Stefano