Era tido como o maior mentiroso de uma cidade pequena de Minas Gerais
Já contei aqui, há muito tempo, uma historinha de um homem que era tido como o maior mentiroso de uma cidade pequena de Minas Gerais.
Contava suas mentiras com a maior seriedade e não admitia que duvidassem. Se alguém falasse que era mentira, ele partia pra briga. Então nem vou falar o nome dele. Vamos dizer que era Zeca.
Nova Resende, a minha terra, é uma cidade que fica no topo de uma montanha, é alta, e tem um clima muito bom. Não era incomum pessoas de lá chegarem aos cem anos de idade.
Quando a revista Veja começou a circular, há mais de 50 anos, mandou um repórter e um fotógrafo à cidade, para fazerem uma matéria sobre a longevidade dos moradores e outras curiosidades que pudessem interessar aos leitores.
Os jornalistas viram e ouviram tantas coisas esquisitas que acharam essas coisas mereciam lugar de destaque na reportagem.
Saíram perguntando sobre coisas e acontecimentos anormais, mas sem usar a palavra anormal, para não ofender. Falavam de “coisas interessantes”, diferentes, que aconteciam na cidade e no município.
Num bar, encontraram o Zeca, o mentiroso sobre quem já falei, tomando cerveja com o Tião, os dois encostados no balcão. Puxaram conversa com eles:
⸺ Nós somos de uma revista de São Paulo e estamos fazendo uma reportagem sobre coisas “diferentes” que existem aqui. Vocês sabem de alguma coisa interessante?
O Zeca não se fez de rogado:
⸺ O lugar que tem mais coisa esquisita aqui no nosso município é na roça, aqui perto, no bairro do Cafundó. Lá tem inclusive um homem de sete braços.
⸺ Sete braços!? ⸺ exclamaram os jornalistas, incrédulos.
O Zeca insistiu, indicando o amigo:
⸺ Pois é verdade. Se vocês tão duvidando, perguntem ao Tião...
Os jornalistas olharam para o Tião e ficaram esperando uma resposta.
O Tião se sentia incomodado: se desmentisse o Zeca, levaria uma surra do Zeca, que era bem maior do que ele; se confirmasse a história, ia passar por mentiroso, com fotografia e tudo na revista, porque o fotógrafo não parava de fotografar.
Bebericou calmamente a cerveja enquanto pensava, deu um murro no balcão e respondeu:
⸺ Olha... pra falar a verdade, o homem mesmo eu nunca vi. Mas já vi uma camisa dele pendurada no varal.
Edição: Michele Carvalho