"Não é uma luta só da esquerda, mas de todas as pessoas que têm compromisso e acreditam na democracia". Essa é a análise de Rita Serrano, conselheira eleita da Caixa Econômica Federal e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, sobre a necessidade de organização popular em defesa da soberania nacional. Ela é uma das participantes do “Ato e Seminário pela Soberania Nacional e Popular”, que acontece nesta quarta-feira (4), das 9h às 19h, no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
Aberto ao público e à imprensa, o evento tem a presença de lideranças como a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), o ex-chanceler Celso Amorim (2003-2011), o ex-senador Roberto Requião (MDB), os ex-candidatos à presidência Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL), além de João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Lideranças de diferentes partidos políticos também participam do seminário, organizado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.
"Não é uma luta de um segmento x ou y. É uma luta de todas as pessoas que defendem melhores condições de vida, o compromisso e desenvolvimento do país, com seu meio ambiente, educação… Então, é uma luta muito ampla e plural. É um momento ímpar de reunir diversos segmentos para o debate sobre o futuro do país, a soberania e as consequências das privatizações", completa Serrano.
Para ela, a mobilização popular em defesa da soberania nacional é urgente, porque a independência brasileira e o bem-estar da população estão cada vez mais ameaçados. Segundo ela, o país está voltando a ser colônia como nos tempos do Império (1822-1889).
“Neste momento que nós estamos vivendo no país, isso [a soberania nacional] está em jogo. O anúncio dos cortes de bolsas e investimentos em Educação e Saúde, a privatização das empresas [estatais], [tudo isso] vai tornando o Brasil refém dos interesses de países dominantes”, explica.
Ideias opostas
O ex-chanceler brasileiro Celso Amorim partilha do mesmo ponto de vista. Em entrevista recente ao Brasil de Fato, o diplomata aposentado analisou que ideias opostas de soberania estão em jogo na Floresta Amazônica: de um lado o interesse nacional, e de outro o das nações imperialistas, sobretudo os Estados Unidos.
“A nossa concepção de soberania é a defesa dos recursos naturais, da nossa capacidade de desenvolvimento autônomo, uma política externa que sempre busque o interesse nacional, explorando inclusive a multipolaridade; em vez de ser um país totalmente alinhado a uma potência, qualquer que ela seja”, pontuou Amorim.
Para o ex-chanceler, “diante de todo o processo de desmantelamento do patrimônio público, temos que perguntar quem está ganhando: são as multinacionais”, endossa. No último dia 21, por exemplo, Bolsonaro anunciou a privatização de 17 estatais, entre elas a Eletrobras, os Correios, a Empresa Brasil de Comunicação, a Loteria Instantânea Exclusiva e a Casa da Moeda.
Serrano acrescenta que toda a riqueza brasileira — bens comuns, empresas públicas, sistemas de saúde e educação e direitos da classe trabalhadora — está sendo entregue ao capital internacional, sem nenhuma melhoria na economia do país.
A conselheira da Caixa também destaca o processo de desindustrialização: menos de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) provém da indústria. Para ela, a dependência de commodities (bem ou produto de origem primária) condena o país ao atraso.
Serrano avalia, no entanto, que o povo brasileiro já vem reagindo aos ataques do governo Bolsonaro. Ela cita as últimas pesquisas de opinião que confirmam a queda crescente de popularidade do presidente com apenas 8 meses de mandato.
“O Brasil, na realidade, está tendo um retrocesso imenso e virou motivo de chacota internacional. As pessoas estão percebendo claramente que a menor preocupação deste governo é a soberania do país e a melhoria da qualidade de vida da população, tanto é que ela está só piorando”, finaliza Serrano.
Edição: Rodrigo Chagas