Saúde

Artigo | Política do Esquecimento: o que a história não diz, não existiu!

Os desafios da saúde feminina lésbica na atualidade

Brasil de Fato | Natal (RN) |
É importante que todas estejamos atentas ao nosso corpo e suas manifestações
É importante que todas estejamos atentas ao nosso corpo e suas manifestações - Reprodução

A ausência do nome produz a ausência do personagem. Quando não somos silenciadas, invisibilizadas, somos violentadas fisicamente e nos negam o direito de amar, portanto, de existir.  Na Inquisição as mulheres eram acusadas de serem bruxas por suas práticas homossexuais e chamadas de “sodomitas”. A famosa cidade bíblica, Sodoma, que não se sabe ao certo se existiu, era tida como a cidade do pecado, e por isso castigada com destruição. Esse silêncio histórico em que se pautou a experiência feminina da homossexualidade foi sustentado por uma política do esquecimento, que renega a experiência afetiva e sexual que dispensa a presença masculina. 
Em 2011, o Ministério da Saúde Pública criou a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, na tentativa de visibilizar o debate. No entanto, ainda são muitos os desafios, principalmente quanto à criação de métodos de prevenção para o sexo entre mulheres. É necessário criar métodos de prevenção para o sexo que não envolve penetração masculina, os métodos utilizados atualmente são adaptações que não têm eficácia comprovada ou são desconfortáveis para as mulheres. 
O Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas – Promoção da Equidade e da Integralidade (2006), publicado pela Rede Feminista de Saúde, apresenta dados que evidenciam as desigualdades de acesso aos serviços de saúde pelas lésbicas e mulheres bissexuais. Com relação às mulheres que procuram atendimento de saúde, cerca de 40% não revelam sua orientação sexual. Entre as mulheres que revelam, 28% referem maior rapidez do atendimento do médico e 17% afirmam que estes deixaram de solicitar exames considerados por elas como necessários. Temos ainda que 60% acreditam que não transmite ou adquire IST (infecções sexualmente transmissíveis) por não serem heterossexuais. 
Se não bastasse, temos ainda que enfrentar dentro dos consultórios um atendimento que centra a saúde sexual feminina nas relações que envolvem penetração masculina, o que faz com que lésbicas ou bissexuais sejam tratadas como virgens por boa parte dos médicos, que em casos mais extremos se recusam até a realizar exames. A dificuldade de abordar a vida sexual destas mulheres dificulta a circulação de informação sobre a transmissão das ISTs. 
Então, o que fazermos? Acredito ser fundamental que estejamos sempre juntas e organizadas para aprofundarmos o debate acerca da nossa saúde sexual e os métodos de prevenção que não sejam adaptações heterossexuais. Para além, é importante que todas estejamos atentas ao nosso corpo e suas manifestações. Nossa vagina é maravilhosa e conhecê-la também é importante. É preciso estar atentas ao cheiro, espessura e cor dos fluídos vaginais.
*Elida Dias é sanitarista.

Edição: Isadora Morena