Um grupo de comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP) anunciaram nesta quinta-feira (29) que irão voltar à luta armada em resposta ao que chamam de “traição do Estado colombiano aos Acordos de Paz”, que foram assinados em Havana, Cuba, em 2016.
Iván Márquez, Jesús Santrich e Hernán Darío Velásquez, conhecido como El Paisa, fizeram o anúncio de que voltariam às atividades guerrilheiras. Márquez, que foi um dos negociadores em Havana, invocou o “direito universal dos povos de se levantarem em armas contra a opressão”.
“Desde a assinatura do Acordo de Paz de Havana e do desarme ingênuo da guerrilha a troco de nada, não para a matança. Em dois anos, mais de 500 líderes do movimento social foram assassinados e já se somam 150 ex-guerrilheiros mortos em meio à indolência e à indiferença do Estado... tudo isso, a armadilha, a traição e a perfídia, a modificação unilateral do texto do acordo, o incumprimento dos compromissos por parte do Estado, as montagens judiciais e a insegurança jurídica nos obrigaram a regressar ao monte. Nunca fomos vencidos, nem derrotados ideologicamente, por isso a luta continua. A história registrará em suas páginas que fomos obrigados a retomar as armas”, disse Márquez, em vídeo publicado no YouTube.
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A posição, no entanto, não é unânime no grupo, que havia se tornado um partido político – a Força Alternativa Revolucionária do Comum. O diretor do partido, Rodrigo Londoño, o Timochenko, disse que “as maiorias” ainda estão no acordo. “As grandes maiorias seguimos comprometidos com o acordado, mesmo com todas as dificuldades ou perigos que se avizinham, estamos com a paz”, afirmou.
Em coletiva de imprensa, presidente da Jurisdição Especial para a Paz (JEP), Patricia Linares, afirmou que todos os membros que retornarem à luta armada perderão os benefícios alcançados pelo Acordo de Paz. A magistrada ainda classificou o fato como "muito grave" e confirmou que a sessão de apelação da JEP já iniciou o processo de expulsão dos comandantes Iván Márquez e Jesús Santrich, bem como de outros combatentes que os seguiram.
Crise com governo
Segundo a FARC, o governo do presidente Iván Duque vem criando dificuldades para o cumprimento do acordo de paz. Em março, Duque fez objeções a seis artigos do estatuto da Justiça Especial para Paz (JEP), tribunal criado para julgar crimes cometidos durante o conflito entre forças do governo e o grupo guerrilheiro.
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A JEP foi criada em 2017, estabelecida dentro do acordo de paz assinado durante a gestão do ex-presidente Juan Manuel Santos entre o governo colombiano e a antiga guerrilha. O objetivo do órgão é definir penas alternativas aos ex-guerrilheiros e militares que confessem crimes, reparar vítimas e se comprometer a impedir violência entre guerrilheiros e militares.
Entre as objeções feitas pelo presidente da Colômbia, estão voltadas para a revisão dos métodos de reparação às vítimas, o que faria com que a antiga guerrilha fosse obrigada a pagar uma indenização ainda maior.
Outro ponto criticado por Duque foi a identificação dos ex-guerrilheiros. O mandatário exigia uma investigação mais rigorosa sobre os antecedentes de cada indivíduo para dificultar o processo de reintegração social que vinha acontecendo até então, no qual quem não respondia por nenhum delito grave recebia até três quartos de um salário mínimo do Estado, até a reintegração completa à sociedade.
Durante toda campanha até sua eleição como presidente da Colômbia, Duque criticou os acordos de paz com a FARC e prometeu endurecer as medidas contra o antigo grupo guerrilheiro.
Edição: Opera Mundi