A mulher dele ficou grávida pela primeira vez e destampou a ter desejos
Joacy nunca tinha visto uma jaca na vida. Sabia que existia, mas se lhe mostrassem um umbu ou um sapoti dizendo que era jaca, ele acreditaria, pois não conhecia pessoalmente nenhuma dessas frutas tão comuns no Nordeste.
Também, ele não tinha obrigação de conhecer, pois nasceu em Santa Catarina e desde jovem morava no Paraná. E na época não chegava nenhuma fruta do Nordeste à sua região.
Um dia, teve de sair às pressas atrás de uma jaca. É que a mulher dele, a Renilda, ficou grávida pela primeira vez e destampou a ter desejos. Primeiro foram coisas mais simples, como almoçar filé mignon com sorvete de coco em cima, comer melancia com feijão de madrugada, beber guaraná com leite, coisas fáceis de resolver.
Depois foi complicando, e ele fazendo tudo o que ela queria, não só porque gostava dela, mas também com receio do sogro achar que ele tinha tirado a Renilda da casa do velho, onde tinha tudo, para passar fome com ele. Isso não!
Chegou então o dia da jaca. Foi às três da manhã. O Joacy, morrendo de sono, ouvia inconformado a Renilda choramingando, dizendo que não aguentava mais a vontade de comer jaca.
— Bem, amanhã eu vou procurar — ele propôs.
Mas ela não queria esperar, insistiu:
— Não, benhê, não! Vai já, benhê!
Levantou, vestiu a roupa sonolento, pensando onde conseguir a maldita jaca. Disse à mulher que só em São Paulo talvez ele conseguisse, pois “em São Paulo tem de tudo”. E ela não parava der pedir:
— Então vai lá, benhê, pel’amor de Deus, que eu num aguento essa vontade de comer jaca.
Quatrocentos quilômetros de ida, quatrocentos quilômetros de volta, com uma caixa de jacas comprada no Ceasa. E ela nem estava mais ligando para jaca.
Queria agora era morar num apartamento. O desejo foi tanto que ele acabou saindo da casa ótima para morar num apartamentinho alugado. Mudou-se em poucos dias, mas não deixou de satisfazer a mulher.
Uma semana depois, acordou de madrugada de novo, com a Renilda cutucando seu sovaco e choramingando:
— Benhê, benhê... Eu tô com desejo.
— Ah, meu Deus, que é que será desta vez? — falou baixinho e preparou-se para mais alguma aventura. — O que cê qué agora, Renilda?
— Eu quero namorar o vizinho, benhê...
Edição: Michele Carvalho