Glauber Rocha, que no dia 22 de agosto de 1981 nos deixou órfãos de filmes polêmicos, performáticos e sempre políticos, nos faz lembrar de todas as pessoas que escolhem o caminho subversivo da arte, contrapondo-se ao trabalho em escritórios burocráticos e sem cores e alegrias.
Nosso cineasta há de ser visto e lembrado sempre, pois assim como ele precisamos nos posicionar em tudo ou certamente seremos engolidos pelas escolhas de quem não quer a arte como ação de vanguarda e liberdade.
Sua força e sua fúria têm como marca principal o ator, escritor, roteirista e, principalmente, o diretor, que além de baiano, era sem dúvida o símbolo de um Brasil Novo. Um país que saía do atraso dos anos 40 e via no horizonte um desabrochar de esperança: de uma bossa que era nova, de uma literatura que também era nova, de uma historiografia nova e, agora nas telonas, produzindo o Cinema Novo brasileiro, esquecido na atualidade, mas que nos brindaram e encheram-nos de orgulho.
O baiano foi um dos criadores do movimento cinematográfico Cinema Novo, reconhecido pelos maiores críticos da época, inclusive com matérias na principal revista de cinema do mundo “Cahiers du Cinéma”. O movimento tinha como foco mostrar um Brasil de verdade, bem longe dos filmes americanos que aqui passavam. Ao contrário das ideias desvairadas de Walt Disney, em “Zé Carioca”, o Cinema Novo mostrava um Brasil belo e esperto, cheio de bandidismo, em filmes como: “Rio, 40 Graus”, “SP Sociedade Anônima”, “Os Fuzis”, “A Falecida” e “O Pagador de Promessa”.
Sendo parte do movimento, Glauber também tinha na filmografia uma maneira própria de demonstrar suas inquietudes, pois além de impressionar pela forma que vai prendendo o espectador, ainda conta com uma poética transgressora. Três vezes indicado a Palma de Ouro em Cannes, ainda levou o prêmio de melhor diretor pelo filme “O Dragão da Maldade contra o Santo guerreiro”, de 1968.
Não posso indicar ou apontar os melhores filmes de Glauber, o que me cabe é no máximo listá-los, todavia há de ser curioso filmes como Di Glauber, ele mostra o enterro do pintor Di Cavalcante, com um discurso visual e um monólogo editado ele vai contando suas opiniões da sociedade.
Outro ponto forte de sua carreira é o filme “Terra em Transe”, com imagens da campanha de José Sarney ao governo do Maranhão, a quem ele fez um curta chamado “Maranhão 66”, mostrando além da ascensão do jovem futuro presidente e ao mesmo tempo a pobreza e o trabalho insalubre do povo maranhense.
Filmes dele são referências até hoje para o nosso cinema, como: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe”, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, “Cabeças cortadas”, “O Leão de Sete Cabeças”, “Claro”, “A Idade da Terra”, “Câncer Além dos Curtas Patio”, “Cruz na Praça”, “Maranhão 66”, “As Armas e o Povo” e “Di Glauber História do Brasil”.
Além de um ferrenho crítico da ignorância cultural de nosso país e da colonização estadunidense da classe média brasileira, Glauber queria revelar os brasis de verdade, mostrar cada dia mais como é nosso povo: como são perseguidos, como são excluídos e como são assassinadas nossas lideranças, principalmente as que não concordam com os interesses pessoais do imperialismo yankee.
Hoje, nesta data em que celebramos a falta de nosso mestre, não aguardemos dias melhores, empunharemos nossas câmeras e contaremos nossas histórias, pois assim como a frase por ele repetida: Uma ideia na Cabeça e uma câmera na mão.
*Rômulo Sckaff é cineasta.
Edição: Marcos Barbosa