O Rio de Janeiro teve pelo menos cinco jovens mortos em comunidades ou próximo a elas em cinco dias - desde a última sexta-feira (9) até a última quarta-feira (14). As vítimas, que tinham entre 16 e 21 anos, foram atingidas por balas perdidas ou baleadas diretamente - a maioria enquanto aconteciam operações policiais. Segundo parentes de todas elas, nenhuma tinha qualquer envolvimento com o crime.
As mortes da semana não são episódios isolados. Segundo o aplicativo Fogo Cruzado, somente no mês de julho, foram registrados 677 tiroteios na região metropolitana do Rio. Ao todo 157 pessoas morreram e 24 ficaram feridas. Houve um aumento de 50% do número de mortos em comparação com o mesmo período de 2018.
Na avaliação de Jaqueline Muniz, cientista política e professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), o que está acontecendo no estado é o que já vinha acontecendo nos últimos anos mas de forma radicalizada após a eleição de Wilson Witzel (PSC).
“O que temos é um projeto de poder que visa produzir insegurança e não uma política pública de segurança, porque a morte tem rendimento, com a morte se lucra. Essa matança corresponde a uma publicidade macabra do governo estadual. O governador, que continua em campanha mesmo depois de eleito, precisa manter todo mundo com medo para aparecer como salvador depois”, explicou a pesquisadora em entrevista ao Programa Brasil de Fato RJ.
Como resposta à repercussão negativa das mortes dos cinco jovens, o governador Witzel mexeu na cúpula da Secretaria de Polícia Militar. O Diário Oficial da última quarta-feira (14) trouxe a exoneração do coronel Damião Luiz Portella da subsecretaria de Inteligência, que esteve à frente dos Batalhões de Volta Redonda (28º) e de Angra dos Reis (33º). Em seu lugar, foi nomeado o coronel Rubens Castro Peixoto Júnior, que já comandou o 26º BPM (Petrópolis) e, mais recentemente, o Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPGE).
Procurada pelo Brasil de Fato, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro disse em nota que lamenta a morte de vítimas inocentes ocorridas no estado. Segundo a Corporação, “as operações para localizar criminosos e apreender armas e drogas são pautadas por informações da área de inteligência e seguem protocolos rígidos de execução”. A Corporação disse ainda que repudia “qualquer tentativa de prejulgamentos contra policiais militares”.
Para a Jaqueline Muniz é necessário reprimir o crime com investigação e inteligência, muito diferente do que tem sido feito até agora. “O governador tem que parar de brincar de ‘Comandos em Ação’ ou ‘Power Rangers’, isso é coisa de menino. Ele está brincando com coisas que não conhece. Talvez seja um amadorismo político da parte dele ou ingenuidade técnica e de conhecimento. Mas tem que parar porque está custando vidas, inclusive de policiais”, afirmou.
Sobre as vítimas
A primeira morte registrada na semana foi a do estudante Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, que faleceu após ser atingido no peito por uma bala perdida em um ponto de ônibus na Tijuca, zona norte do Rio, na última sexta-feira (9).
Já na segunda-feira (12), Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior foi baleado durante um tiroteio no meio da tarde na Comunidade Terra Nova, no Bairro Lagoa, em Magé, na região metropolitana do Rio. Segundo um parente, o jovem saiu de casa para checar o reparo de sua motocicleta e foi atingido por uma bala perdida.
Também na segunda-feira (12) foi morto a tiros Dyogo Coutinho, de 16 anos, jogador da categoria de base do América, em Niterói, na região metropolitana. Amigos, parentes e moradores afirmam que ele estava indo treinar quando foi baleado. A PM estava em operação na região das comunidades do Viradouro, Grota e Igrejinha.
No sábado (10), o soldado da Brigada de Infantaria Paraquedista Lucas Monteiro dos Santos da Costa, de 21 anos foi encontrado morto após participar de uma festa no Encantado, na Zona Norte do Rio. De acordo com agentes do 3º Batalhão (Méier), policiais foram checar disparos de armas de fogo na região e, ao chegar no local, encontraram duas pessoas mortas e uma terceira, que foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros.
A última vítima da semana foi Margareth Teixeira, de 17 anos, baleada em Bangu, zona oeste do Rio, na quarta-feira (14), com o filho de um ano e nove meses no colo, durante uma operação da PM. O bebê ficou ferido no pé.
Edição: Mariana Pitasse