Coluna

Um pai para cada ocasião

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O colunista Mouzar Benedito traz uma história para celebrar o Dia dos Pais
O colunista Mouzar Benedito traz uma história para celebrar o Dia dos Pais - Free-Photos por Pixabay
Pai você pode ter vários, mas mãe só tem uma...

– Vai lamber sabão!

Este era um xingamento comum em Minas, proferido quando se queria mandar alguém pra algo muito pior, mas no meu tempo de criança não se falava muitos palavrões.

Eu me lembrei disso há anos, quando tomava um café num boteco e vi um sujeito vestido de macacão pegar um pedacinho de sabão e colocar na boca. Como tenho um amigo que come batata crua como se fosse maçã, e outro que adora feijão com melancia, não me impressiono muito com gostos alheios, mas nesse dia fiquei curioso:

– Você gosta de sabão?! – perguntei admirado.

Não gostava. O sabão era para provocar um aquecimento do corpo, um pouco de febre. Precisava folgar um dia para resolver uns problemas e por isso, antes de entrar no trabalho, comeu o sabão. Um pedacinho só. Depois, diria que estava se sentindo mal, pediria para medir a temperatura de seu corpo, veriam que ele estava com febre e lhe dariam um dia de folga. Garantiu que dava resultado.

Já vi muitos artifícios de gente que quer pegar uma folga.

Um colega de trabalho de vez em quando começava a andar torto e reclamar de dor na coluna. Naquela época, as radiografias eram incomuns e era difícil comprovar se a dor era verdade ou não, e ele conseguia sua folga.

Um professor da rede estadual de São Paulo, que lecionava numa cidade do Vale do Ribeira, veio passar o fim de semana na capital, precisava voltar domingo à noite para sua cidade, mas queria ficar mais um dia aqui.

Deram-lhe a receita para resolver isso: era só ele passar no Hospital do Servidor na segunda de manhã e dizer ao médico que estava com diarreia que ganharia um atestado justificando a falta.

Mas ele achou que falar em diarreia era pouco, quis dramatizar mais, inventou uma história enrolada e acabou é saindo dali para um hospital psiquiátrico, onde ficou um mês internado.

Então, é preciso tomar cuidado com a história que inventa...

Um rapaz faltou ao trabalho e depois disse que seu pai havia morrido. Um ano e pouco depois, faltou de novo e disse a mesma coisa. A desculpa passou. Fez isso pela terceira vez, a coisa colou de novo. Na quarta vez, achando que já tinha matado o pai demais, disse que a mãe havia morrido. Mais um tempo, faltou de novo e disse novamente que a mãe havia morrido. Foi demitido, depois de uma bronca:

– Pai você pode ter vários – sorriu o chefe malicioso. – Mas mãe só tem uma...
 

Edição: Michele Carvalho