Entrevista

Rodrigo Lima, cantor do Dead Fish: “Liberdade de expressão é algo que não se negocia”

Vocalista da banda punk fala sobre a luta contra a censura e a defesa pela liberdade de expressão atualmente

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Rodrigo Lima, vocalista da banda Dead Fish
Rodrigo Lima, vocalista da banda Dead Fish - John Nascimento

Atuante na cena punk rock hardcore brasileira há 28 anos, a banda Dead Fish (ES) vem realizando uma série de shows para divulgar o seu último trabalho: o disco Ponto Cego (2019). Passando por Natal (RN), o grupo uniu centena de fãs na capital potiguar para cantar as músicas recheadas de tons políticos e de denúncias sociais.
Para além da música, a banda também aproveitou a passagem na cidade para trocar as experiências políticas com os artistas de Natal. Durante uma roda de debate sobre “Bolsonarismo e o avanço da extrema-direita no Brasil”, promovida pelo movimento dos Artistas Potiguares Antifacismo (Apaf), o vocalista do Dead Fish, Rodrigo Lima, falou com o Brasil de Fato RN sobre a conjuntura atual.
Comentando sobre o Dia do Fim da Censura no Brasil, comemorado no dia 3 de agosto, o artista aproveitou para ressaltar a importância de defender a luta contra a censura, já que, segundo ele, “a liberdade de expressão é algo que não se negocia”. Lima ainda diz lamentar os posicionamentos do Governo Bolsonaro sobre a ditadura, período cercado pela censura. Para ele, isso é “um sentimento de estar voltando à ditadura que meu pai viveu e lutou contra”.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato RN: Dia 3 de agosto é o Dia do Fim da Censura no Brasil. O que você pode falar sobre a importância de relembrar essa data atualmente?
Rodrigo Lima: Eu acho que lutar contra a censura é continuar lutando contra todo esse processo de desgoverno. Esta portaria que foi editada agora contra o Glenn Greenwald já é uma demonstração cabal de que existe um desprezo gigante por democracias em evolução, principalmente no Brasil. Desde o golpe contra a Dilma, a gente vê uma elite econômica e todo um mercado se posicionando contra a democracia. 
Lutar contra a censura é lutar pela democracia em sua raiz: é ser radical. Liberdade de expressão é algo que não se negocia, a gente não pode ficar achando limites para isso. 
O Governo Bolsonaro também vem se posicionando na intenção de extinguir alguns órgãos de promoção à cultura, como a Ancine. O que avaliar sobre isso?
Existem cortinas de fumaças para tudo. Você pode ver que os conselhos federais já estão sendo extintos. De devolver a Ancine para um lado, trazer para outro. A Ancine nunca foi bem gerida nesse aspecto, em nenhum governo, mas essa de extinguir é uma novidade. 
A coisa de ter que passar por um crivo do que é interessante ou não para o Governo... isso é Terceiro Reich, puro e simples. A gente está voltando 500 anos, ou mais!
Diante disso, qual o posicionamento você acha que os artistas, atualmente, devem tomar?
Quem não se posiciona contra a censura, provavelmente, não é uma pessoa ligada à arte. Pode estar ligada ao mercado ou a uma pequena elite. Para mim, cultura e arte está na base da civilização. A cultura latino-americana está na base de tudo. 
Não se posicionar contra a censura é bizarro. Eu lembro que meu pai contava umas histórias dos artistas nos anos 60, como Sérgio Sampaio e Roberto Carlos, de como era complicado na época da ditadura. A última coisa de censura que eu vi foi no disco da Blitz, que chegou todo riscado pela censura. Ainda era época do vinil, e o álbum da Blitz vinha com uma música riscada, mas que as rádios ainda chegaram a tocar.
Vemos um Governo que defende a falta da liberdade de expressão. Tudo bem, a nossa democracia é muito nova, a gente ainda engatinha no conceito amplo de liberdade de expressão. Só que, com isso, eu tenho um sentimento de estar voltando à ditadura que meu pai viveu e lutou contra. Isso é trágico, de um nível deprimente.
 

Edição: Marcos Barbosa