resistência

Comida de Verdade: movimentos do campo e da cidade se unem na luta por direitos

Evento em defesa da Feira Nacional da Reforma Agrária destaca a importância da unidade e da solidariedade

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Gilmar Mauro, do MST: "É a coletividade e a unidade que vão nos permitir enfrentar esse tempo"
Gilmar Mauro, do MST: "É a coletividade e a unidade que vão nos permitir enfrentar esse tempo" - Foto: Marina Duarte

O Festival Comida de Verdade em Defesa da Feira da Reforma Agrária do MST lançou neste domingo (4) um manifesto em defesa da alimentação saudável, do meio ambiente e da garantia de direitos e democracia.

O festival foi organizado em apoio à Feira Nacional da Reforma Agrária do MST – ameaçada de não acontecer este ano devido à intransigência do governador do estado de São Paulo, João Dória (PSDB), que se recusa a liberar o Parque da Água Branca, onde o evento ocorre há quatro anos.

O documento – organizado pela Rede Sustenta, pelo Instituto Chão, pelo coletivo banquetaço, pelo movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – também denúncia o ataque a organizações sociais por meio das prisões arbitrárias contra lideranças políticas

“Será que nós somos criminosos por estarmos querendo morar? Por querermos plantar? Somos criminosos por querer vivermos com qualidade de vida? Não somos. Estamos lutando pelos nossos direitos”, afirmou Claudete Lindoso, do MSTC, durante o ato de lançamento do manifesto.

“Vamos lutar para que esta feira seja realizada, porque nela é necessária. É necessário que reformas sejam feitas, é necessário que políticas públicas e sociais sejam feitas, é necessário a reforma agrária, a reforma da habitação e várias outras reformas que na verdade estão na Constituição Federal. É um direito nosso e nós devemos e vamos lutar por isso”, concluiu a liderança.

Também durante o ato, Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, ressaltou a importância da solidariedade entre os movimentos sociais.

“Nós somos um dos movimentos mais longevos da luta pela terra no Brasil. O que nos salvou e nos mantém vivos é a luta da nossa categoria, sim, mas de sobremaneira a solidariedade internacional e do nosso país”, afirmou Mauro.

“Neste mundo, nós não precisamos de muitas coisas. Nós só precisamos de uns dos outros. Já disse o Carlito Mais e mais do que nunca precisamos reafirmar isso agora: não haverá conquistas corporativas, ninguém vai ter conquista a partir [apenas] da sua organização, mas é a coletividade e a unidade que vão nos permitir enfrentar esse tempo e conduzir às conquistas que nós precisamos”, disse.

Confira a íntegra do manifesto:

Comida de Verdade no Campo e na Cidade

Hoje, dia 4 de agosto de 2019, seria o último dia da IV Feira Nacional da Reforma Agrária na cidade de São Paulo, caso não estivéssemos vivendo esse momento de duro golpe na democracia no Brasil. O Movimento Sem Terra foi tolhido do seu direito democrático de uso da cidade, onde realizou suas feiras de comercialização de alimentos ao longo de 4 anos, movimentando mais de 200 mil pessoas no Parque da Água Branca na última edição do ano de 2018 e comercializando 400 toneladas de alimentos oriundos dos assentamentos e ocupações rurais.

O território que nos acolhe aqui é o território de outro movimento fundamental na luta pela terra! A ocupação 9 de julho, presente no coração de São Paulo, nos acolhe junto com o MSTC de dona Carmen, de Preta e Sidney Ferreira, presos desde junho pelo “crime” de não se calar frente às injustiças que estamos vivendo. É também contra toda a intolerância, ódio e abuso de autoridade que esse amplo movimento se une numa parceira histórica de defesa dos direitos dos trabalhadores e contra a criminalização dos movimentos populares! Chega de assassinatos e perseguição das lideranças sociais e defensores dos direitos humanos!

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo há muitos anos, porém neste ano de 2019 essa preocupação cresceu entre os brasileiros. Já foram mais de 250 novas substâncias aprovadas pela Anvisa, sendo que muitas delas são extremamente tóxicas para os humanos e meio ambiente. Nossa água, nosso solo, nossa comida e nosso corpo estão sendo contaminados pela ganância da burguesia brasileira, atenta apenas em retomar o crescimento de suas taxas de lucro para sair da crise econômica que assola o país, em detrimento da saúde do povo.

Porém, anunciamos! A solução para a crise no Brasil é todo brasileiro ter acesso ao alimento de verdade! Moradia e alimentos no campo e na cidade e sem agrotóxicos! É inadmissível que a fome volte a crescer num país tão privilegiado em recursos naturais como é o Brasil com um potencial tão abundante e rico em biodiversidade!

Demonstramos isso hoje com o nosso delicioso banquetaço, que recebeu mais de 300 kg de alimentos agroecológicos doados e envolveu mais de 60 colaboradores e chefes de cozinha. O resultado é a comida de verdade para a classe trabalhadora, na busca pela soberania alimentar e na aproximação do agricultor com o trabalhador urbano. É a união campo e cidade derrubando fronteiras e encurtando a distância entre produção e consumo.

Gostaríamos de agradecer a todas e todos que ajudaram a fazer esse festival! Especialmente aos músicos que também nos alimentaram… Não apenas nosso corpo, mas também a nossa alma nessa tarde fria e aconchegante. A cultura comprometida com os direitos do povo pode romper barreiras inimagináveis!

Libertar Preta e seus companheiros, libertar Lula e realizar a IV Feira Nacional da Reforma Agrária é urgente! Convidamos a todos pra engrossarem as fileiras da luta pela democracia. Com alegria e determinação, vamos afastar esse período sombrio das nossas vidas!

Se o campo não planta, a cidade não janta!

Quando o campo à cidade se unir, a burguesia não vai resistir!

 

Confira os vídeos de quem passou pelo Festival Comida da Verdade:

Músico Curumim

Samuel Samuca, músico do Samuca e a Selva

Deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP)

Cantor Otto

Vinícius Rafael, urbanista

Claudia Oliveira, assistente técnica

Edição: João Paulo Soares