Os truculentos e criminosos ataques de Jair Bolsonaro (PSL) ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e à memória do pai deste cidadão, apontando para o seu desaparecimento uma versão oposta à oficial, que reconhece o caso como mais um assassinato da ditadura, não deixa dúvida: tal atitude configura mais de um crime, todos passíveis de impeachment.
A irresponsabilidade das falas do presidente da República nesse episódio lastimável e cruel ofende a um só tempo: 1) um brasileiro vivo, órfão de um pai assassinado pelo Estado que deveria protegê-lo; 2) a memória desse cidadão, engolido pelos porões da ditadura; 3) a atuação das instituições governamentais, neste caso, a Comissão Nacional da Verdade; 4) o Estado Democrático de Direito; e 5) cada ser humano que seja capaz de ter compaixão com o seu semelhante.
Salta aos olhos que o dirigente máximo do nosso país proceda cotidianamente de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo, hipótese legal de crime de responsabilidade contra a probidade na administração.
A situação chegou a tal ponto de incredulidade que, finalmente, brasileiras e brasileiros dos mais variados partidos e correntes ideológicas, incluindo figuras bem próximas a Bolsonaro -- como o governador de São Paulo, João Doria --, mostram-se indignados com as declarações sádicas do presidente da República.
Ao afirmar que o pai do presidente da OAB não foi morto pela ditadura, mas por companheiros de militância, escancara-se o desrespeito de Bolsonaro por dados oficiais e levantam-se suspeitas em relação a militares que lhe teriam contado outra história. Além do mais, causa embaraço e perplexidade em muitos apoiadores que parecem não ter mais tolerância com esse nível de violência e de mediocridade.
Coincidentemente (ou não), às vésperas do Dia dos Pais, vemos rompidas a apatia e a indiferença da sociedade brasileira no tocante às torpezas criminosas do presidente da República. Mas não é só isso: tamanho mal estar nos impele a rememorar as inúmeras atrocidades cometidas pelo "Mito", outros crimes de responsabilidade e atos de improbidade, também passíveis de impeachment.
O objetivo deste texto se conclui agora: deputados e senadores devem catalogar cada um dos atentados à Constituição cometidos por Jair Bolsonaro desde o dia 1º de janeiro até o presente momento e formalizar quantos pedidos de impeachment sejam cabíveis contra a referida autoridade. 1 (em numeral mesmo) impeachment é pouco!
* Alexandre de Lima Sousa é professor de Filosofia da rede estadual do Ceará.
Edição: Daniel Giovanaz