Em meio ao desmonte da educação pública promovido pelo governo Bolsonaro, a jovem Korê Canela, de 28 anos, enxergou no curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) uma oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre suas próprias raízes indígenas.
A história da etnia Canela, ela conta, remonta um passado em comum e triste para os povos originários no Brasil. Os bisavós de Korê escaparam de um massacre que aconteceu por volta de 1930 no estado do Maranhão. Com a dispersão da tribo para outras regiões, toda cultura dos povos Canela também se perdeu.
“A aldeia Tapiraka em Mato Grosso foi formada em 2016 por pessoas que perderam esse vínculo, os Canelas perdidos do passado. Houve um massacre e muitos fugiram, perdendo tudo. Eles se perderam e perderam a língua. A gente está voltando aos poucos para resgatar essa cultura”, conta.
O curso de LEC, escolhido pela acreana, é voltado para formação de professores de escolas do campo e quilombolas. Existem mais de 40 cursos em atividade em diversas Instituições Federais de Ensino Superior em todo país. Na UFRRJ, o curso foi construído em 2009 a partir de um edital do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), considerando as reivindicações históricas dessa população pelo direito à educação.
“A princípio não tinha ideia de querer ser professora, mas me chamou atenção o curso ser voltado para o tema dos povos indígenas e negros. Tenho vontade de ajudar o meu povo Canela e trabalhar com povos indígenas, minha expectativa é essa. No Tocantins ou Maranhão, não sei ainda”, planeja Korê que conseguiu aprovação estudando no Pré-Vestibular Popular da Rocinha "Só Cria".
Assistência estudantil
Com o curso em tempo integral pela manhã e durante a tarde Korê se preocupa em conseguir o quanto antes assistência estudantil. Sem garantir moradia e alimentação, segundo ela, “não tem condições”. Para Julia Aguiar, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante do Levante Popular da Juventude, é difícil visualizar no projeto “Future-se” do Ministério da Educação (MEC) as condições para a permanência estudantil.
“Enxergamos no programa [Future-se] uma possibilidade de privatizar de vez as universidades federais. Dizem que os reitores vão ter opção de aderir ou não ao programa, mas, enquanto isso, as universidades estão com orçamento cada vez mais asfixiado pelos cortes na educação. Precisamos de assistência estudantil, moradia, e não conseguimos visualizar como um projeto que coloca a educação como mercadoria pode encarar a educação como um direito gratuito”, ressalta Julia.
O “Future-se”, apresentado semana passado pelo ministro Abraham Weintraub, propõe que as instituições de ensino superior possam firmar contratos e fazer parcerias público-privadas (PPPs). A UNE cobra a liberação do orçamento das universidades, que sofreram um corte de 30% para este ano. A entidade argumenta, ainda, que o programa torna as universidades públicas dependentes de investimentos privados.
Edição: Jaqueline Deister