O Partido Conservador escolheu nesta terça-feira (23) o ex-prefeito de Londres Boris Johnson como o novo primeiro-ministro do Reino Unido.
Johnson, que angariou 92.153 dos 160 mil votos dos filiados do partido e venceu o ministro das relações Exteriores, Jeremy Hunt, assumirá a tarefa que levou à renúncia da agora ex-premiê Theresa May e ao impasse do atual cenário político britânico: o destino do Brexit.
Para Giorgio Romano, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Johnson pretende utilizar sua proximidade com o presidente norte-americano Donald Trump para convencer a União Europeia a renegociar o acordo de May, ameaçando assinar imediatamente acordos bilaterais com os EUA para aumentar seu poder de negociação com Bruxelas.
“Johnson quis deixar May se queimar para agora colher os frutos e apostar em uma relação especial com os EUA. Ele vai abrir as negociações com a União Europeia usando os Estados Unidos como trunfo. Se o Reino Unido sair do bloco, no dia seguinte Boris Johnson liga para Trump e assina um acordo de livre comércio com os EUA”, disse Romano.
Segundo o especialista, membro do Observatório de Política Externa da UFABC, o novo primeiro-ministro utiliza a retórica de aproximação com Washington para pressionar as negociações, “embora a UE não possa fazer grandes concessões”.
“Ele [Johnson] sabe que precisa de algum acordo. É um jogo complexo, ainda mais porque o tempo é curto”.
O professor lembra que Johnson apoiou a saída do país no bloco europeu durante a campanha do referendo de 2016 e que, após o resultado que deu início ao Brexit, a renúncia de May sempre interessou ao novo premiê.
“Ele trabalhou para isso desde o início. Não era para ele estar no campo do Brexit, mas, depois que o Brexit ganhou, ele jogou muito contra o acordo de May”, afirmou.
Renúncias
No último domingo (21), alguns ministros do governo conservador do Reino Unido prometeram renunciar caso Johnson fosse eleito premiê. O ministro da Economia, Philip Hammond, chegou a afirmar que seria incapaz de contribuir com um líder que pretende levar a cabo um Brexit sem acordo.
“Tenho certeza de que não vou ser tirado [do governo], porque vou renunciar antes de chegar a esse ponto. Assumindo que Boris Johnson se torne o próximo primeiro-ministro, entendo que as condições para estar em seu governo incluiriam aceitar uma saída [da UE] sem acordo em 31 de outubro, e isso é algo que eu nunca aceitaria”, disse o ministro durante entrevista à emissora BBC.
O ministro da Justiça, David Gauke, também afirmou que deixaria o governo se Johnson fosse escolhido, por ser contra o que se convencionou chamar de Brexit duro.
Edição: Opera Mundi