HOMENAGEM

Morre, aos 89 anos, o poeta e intelectual cubano Roberto Fernández Retamar

Retamar era presidente da Casa das Américas e é um dos principais intelectuais do pensamento latino-americano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Com uma vasta publicação intelectual, Retamar foi uma das figuras fundamentais para a conformação da crítica latino-americana
Com uma vasta publicação intelectual, Retamar foi uma das figuras fundamentais para a conformação da crítica latino-americana - Irene Pérez/ Cubadebate

O poeta, ensaísta e intelectual Roberto Fernández Retamar faleceu em Cuba no último sábado, 20 de julho. Aos 89 anos, Retamar presidia a Casa das Américas, instituição cultural cubana fundada nos primeiros meses da Revolução.

O posto que ocupou até o dia de sua morte expressa um reconhecimento de seu intenso trabalho intelectual e dedicação à produção crítica nos mais de 60 anos de socialismo em Cuba, inseparável de sua trajetória. 

Nos anos 50, Retamar colaborou e dirigiu a legendária revista de arte e literatura Orígenes. Em 1958, após estudar em diversas universidades no exterior, entre elas, na Sorbonne (Paris) e lecionar na Universidade de Yale (EUA), regressou a Cuba para integrar o Movimento de Resistência Cívica contra a ditadura de Fulgencio Batista. Após o triunfo da Revolução, atuou como conselheiro cultural de Cuba em Paris. 

Foi, junto com Nicolas Guillén e Alejo Carpentier, um dos fundadores da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), em 1961. Como um dos seguidores do pensamento de José Martí, Retamar fundou o Centro de Estudos Martinianos e, ao longo de sua trajetória, colaborou para aprofundar a obra e o pensamento do intelectual cubano do século XIX. 

Com uma vasta publicação, o cubano é uma das figuras intelectuais mais ativas conformação da crítica latino-americana. Entre seus principais ensaios está Calibán (1971), essencial para o pensamento político latino-americano. 

“Retamar era claramente fora de série: um homem de convicções firmes e de impecável polidez, possuía um castelhano límpido e preciso, sempre harmonioso aos ouvidos de suas leitoras ou leitores. Sua pluma elegante era deleitosa, porém cortante contra os servos do império, dos inimigos da revolução e também para a legião de ecléticos que, em momentos como estes, vacilam em condenar categoricamente o imperialismo pela interminável sucessão de crimes contra a humanidade que comete diariamente”, resumiu Atílio Borón, cientista político argentino.

Fidel Castro e Roberto Fernández Retamar seguram quadro com imagem de José Martí | Foto: Arquivo Casa de las Américas

Na poesia -- seu principal campo de batalha  --, publicou mais de 30 livros; o primeiro, Elegía como un himno, foi publicado em 1950. Ao longo de sessenta anos de dedicação à poesia, colecionou diversas premiações, entre elas, o Prêmio Nacional de Poesia por seu livro Patrias (1951) e o Prêmio Nacional de Literatura por sua obra Juana y Otros Poemas Personales (publicado em 1981 e premiado em 1989). 

Trinta anos depois, recebeu, em janeiro deste ano, o Prêmio Internacional José Martí da Unesco, como reconhecimento de sua atuação ampla em “defesa da justiça, proteção das crianças, desenvolvimento ético dos povos, do reconhecimento da dignidade humana e combate ao racismo”.

Na ocasião de sua morte nesse 20 de julho, foi homenageado por diversos intelectualidades e personalidades políticas. “Querido Roberto, obrigada por nos deixar sua obra, lucidez e compromisso”, escreveu o presidente de Cuba Miguel Díaz Canel.

O intelectual brasileiro Frei Betto também prestou homenagem ao poeta e ensaísta cubano, segundo o jornal Granma.

“Retamar nos deixa como legado o exemplo de um revolucionário abnegado, um poeta sensível, um intelectual dialógico, um homem dedicado às causas mais nobres da humanidade. Meu abraço fraterno da ressurreição”, escreveu Frei Betto.

No vídeo abaixo, o poeta Roberto Fernández Retamar recita seus poemas num show organizado com o cantor cubano Silvio Rodríguez.

Edição: Luiza Mançano