O que leva um homem a atentar contra a vida de dezenas de trabalhadores, simplesmente porque bloqueiam a estrada? Como entender tamanho ódio a uma cor, uma bandeira?
Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), Dimitri Sales avalia que o atropelamento de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que resultou na morte do pedreiro Luis Ferreira da Costa, de 72 anos, é "expressão de uma política de morte" promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e seus aliados.
Segundo Sales, o contexto político do país motiva atitudes como a que ocorreu na manhã desta quinta-feira (18), quando o motorista de uma camionete atacou em alta velocidade contra uma manifestação do MST na cidade de Valinhos (SP), a 84 km da capital paulista: "O que a gente vive no Brasil é um Estado de exceção".
"Trata-se de um contexto que privilegia a morte em detrimento de políticas de promoção de direitos humanos, que privilegia a arma, acabar com o direito dos diferentes, que diz que a partir de primeiro de janeiro sem-teto, sem-terra seriam tratados à base da bala. Isso tudo vai repercutindo na sociedade como um discurso institucional que autoriza o extermínio das populações que lutam pelos seus direitos", denunciou.
Dimitri Sales conversou com o Brasil de Fato na delegacia da Polícia Civil do 1º Distrito de Valinhos, na Grande Campinas -- onde foi detido o mecânico Leo Luiz Ribeiro, que confessou o crime -- e afirmou que o Condep acompanhará o caso até o fim para exigir a punição do responsável.
"O que aconteceu na cidade de Valinhos é repercussão de uma política institucionalizada de criminalizar os movimentos sociais, por um lado, e, por outro lado, de extinguir, eliminar, aqueles que lutam pelos seus direitos", explicou.
Por fim, o defensor dos direitos humanos assinalou que a política de armas em processo acelerado de implementação pelo governo Bolsonaro deve recrudescer o cenário de violência contra os movimentos de camponeses sem-terra: "A gente tem plena certeza que as mortes no campo vão aumentar, que essa infeliz prática de assassinatos na luta pela terra vai ser mais cotidiana", lamentou.
*Com informações do repórter Igor Carvalho
Edição: Rodrigo Chagas