O sociólogo espanhol Manuel Castells citou o filósofo marxista e crítico literário húngaro György Lukács para afirmar que o mundo vive um momento de “ataque à razão” e de posições irracionais contra a ciência, durante o seminário Comunicação, Política e Democracia, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (16).
“A democracia não garante a liberdade, mas a liberdade garante a democracia. Foi pela democracia que Hitler se elegeu na Alemanha. Quando vemos a política em torno de demagogos com seus retrocessos sociais no mundo de hoje, temos que entender por que razão as pessoas pensam com esses líderes. Digo que é um assalto à razão, porque há mecanismos que reproduzem a mesma lógica dos anos 1930”, analisou.
Criticado no início dos anos 2000 por um discurso entusiasmado com a internet, em sua trilogia de livros “A Sociedade em Rede”, Castells admitiu, durante sua palestra na FGV, que se vive nos dias de hoje uma “ditadura da era da informação que vem se mostrando contrária aos direitos humanos, os mesmos que permitiram ao Brasil lutar contra a ditadura tradicional”.
O sociólogo espanhol disse, contudo, que não se deve abrir mão de compreender o uso das redes sociais do mundo digital. Segundo ele, as esquerdas só perceberam o potencial desta ferramenta depois de perderem as eleições em diversos países para partidos da extrema-direita. Ainda de acordo com Castells, não são as redes, mas o fator emocional que explica a ascensão do conservadorismo.
“O sistema mental de construção de narrativas e recepção de mensagens, a neurociência social como campo em expansão com resultados empíricos, mostra que somos animais emocionais. A ideia de que somos racionais está cientificamente superada. Primeiro, dizemos no que queremos acreditar, depois recebemos o que queremos receber e bloqueamos o que não queremos ver e ouvir”, completou.
Para ele, a crise de legitimidade institucional que levou à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, ao Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), à ascensão da extrema-direita em alguns países europeus mostra que o Brasil que elegeu o presidente Jair Bolsonaro não está sozinho. “Vocês desgraçadamente não são os únicos”, afirmou o sociólogo.
Na opinião de Castells, os postos de trabalho que vêm sendo extintos em decorrência do avanço tecnológico e da revolução da inteligência artificial não justificam nenhum tipo de tecnofobia por parte das esquerdas, já que é preciso dominar o mundo digital. “A rejeição à tecnologia é a mesma que leva à rejeição da vacina e da ciência, essa mesma tecnologia que tira trabalhos também precisa de mão de obra para ser realizada”.
Edição: Vivian Virissimo