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Sobrenome ao gosto do freguês

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Assim, todos os netos que ele registrou tinham o sobrenome Torres
Assim, todos os netos que ele registrou tinham o sobrenome Torres - Divulgação/Receita Federal
Não se levava muito a sério isso de colocar o sobrenome do pai nos filhos

Um amigo me perguntou porque eu e mais sete irmãos temos o sobrenome Silva e dois têm o sobrenome Torres. 
Seriam pais diferentes?

Não. Tive que explicar.

Na época, no interior mineiro, não se levava muito a sério isso de colocar o sobrenome do pai nos filhos.

E não se exigia a presença do pai no cartório para registrar filhos. Às vezes, por morarem na roça ou por outro motivo qualquer, mandavam só um aviso para o meu avô materno: “No dia tal, nasceu meu filho, que vai se chamar Antônio. Favor registrar no cartório”.

Esse meu avô, João Guilherme Torres, julgava esse sobrenome muito importante. Então, em vez de colocar na criança o sobrenome do pai colocava o nome dele mesmo.

Assim, todos os netos que ele registrou tinham o sobrenome Torres.

E falando dele, ainda lembrando como funcionava esse negócio de sobrenome no interior de Minas Gerais, contei ao amigo o que eu sabia sobre Vital Brazil, descobridor do soro antiofídico e muitas outras coisas importantes, e fundador do Instituto Butantan, em São Paulo, onde se produz, por exemplo, mais da metade de todas as vacinas usadas no Brasil.

Segundo li, o pai de Vital Brazil tinha uma treta com o pai dele, e resolveu não colocar o seu sobrenome em nenhum dos filhos.

Cada filho que nascia recebia como sobrenome o nome do lugar onde nasceu. Assim, o menino nascido na cidade de Campanha recebeu o nome de Vital Brazil Mineiro da Campanha.

Duas irmãs dele nasceram no Vale do Sapucaí e chamavam-se Maria Gabriela do Vale do Sapucaí e Iracema Ema do Vale do Sapucaí.

E cinco irmãos nasceram na cidade de Caldas. Aí vão seus nomes: Oscar Americano de Caldas, Judith Parasita de Caldas, Acácia Sensitiva de Caldas, Fileta Camponesa de Caldas e Eunice Peregrina de Caldas.

Um amigo de Itajubá me contava sobre uma irmã de Vital Brazil nascida naquela cidade e se chamava Rosa Morena de Itajubá. Belíssimo nome. Mas lendo sobre a família não encontrei nada sobre ela, deve ter sido filha de outro que tinha o mesmo princípio.

Ah... O Vital Brazil casou-se duas vezes, teve 12 filhos com a primeira mulher e 9 com a segunda.

E colocou nele o sobrenome Vital Brazil. Não herdou a mania divertida do pai.

Eu, se tivesse uma filha, talvez imitasse o pai do Vital Brazil. Poderia dar a ela, por exemplo, o nome Rosa Luxemburgo da Vila Madalena.

Edição: Michele Carvalho