Tinha muita agitação, com sindicatos anarquistas atuantes
Nestes tempos de polarização política e intolerância, andei pensando um pouco na história política do Brasil e particularmente de São Paulo, no século passado.
No começo do século XX, tinha muita agitação, com sindicatos anarquistas atuantes, especialmente na capital paulista.
Depois, já no tempo da ditadura getulista, houve uma fase de confrontos. O paulista Plínio Salgado criou em 1932 o Integralismo, versão brasileira do fascismo.
Em seguida, surgiu, com sede no Rio de Janeiro, um movimento de esquerda, a Aliança Nacional Libertadora. Aí virou pauleira. Os encontros entre os grupos de direita e de esquerda eram verdadeiras guerras. Em São Paulo, num primeiro de maio, na Praça da Sé, houve até mortes no confronto entre eles. Então, a radicalização era até maior do que hoje.
Mas depois de um tempo, os paulistas passaram por uma espécie de despolitização.
Na década de 1950 existiam 13 partidos no Brasil, e os mais fortes deles eram o PSD, Partido Social Democrático, de que faziam parte, por exemplo, Juscelino e Tancredo Neves; a UDN, União Democrática Nacional, que na verdade não era nada democrática, era golpista, tendo como líderes, entre outros, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto; e o PTB, criado por Getúlio Vargas, que tinha Leonel Brizola e João Goulart.
Mas em São Paulo era diferente. Quase não se falava em partidos. Era uma política personalista, havia uma polarização entre os eleitores de Adhemar de Barros e de Jânio Quadros. Quase todo mundo era ademarista ou janista.
Adhemar tinha um partido, o PSP, Partido Social Progressista. E Jânio não era fiel a nenhum partido, pulava de um pra outro na maior.
Até o PSB, socialista, era tratado em São Paulo como se fosse de uma pessoa, de um líder. Aqui era conhecido como “partido do Cid Franco”, que era seu presidente regional.
Mas os eleitores, embora fanáticos por Adhemar ou por Jânio, não eram de sair pra briga por causa disso. Havia até ademarista casado com janista.
Adhemar foi um precursor de Paulo Maluf. É atribuída a ele a criação do lema “rouba mas faz”. E queria ser presidente da República a qualquer custo, mas quase não tinha adeptos fora de São Paulo. Igual ao Maluf.
Uma história divertida de Adhemar é de um comício em que ele bateu a mão no bolso da calça e falou: “Dizem que eu roubo... Mas neste bolso nunca entrou dinheiro roubado”.
Do meio da multidão, um gaiato gritou: “Calça nova, hein?”.
Edição: Michele Carvalho