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Rio de Janeiro tem pior transporte público do mundo segundo pesquisa internacional

Viagem longa, baldeação, custo alto e rotina desgastante prejudicam parcela mais pobre da sociedade

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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"É difícil falar que existe perspectiva de melhora dada a situação política e econômica do país atualmente", aponta pesquisador
"É difícil falar que existe perspectiva de melhora dada a situação política e econômica do país atualmente", aponta pesquisador - Fernando Frazão/Agência Brasil

Como muitos trabalhadores do Rio de Janeiro, o técnico de Segurança do Trabalho Allan Fernandes da Silva, de 40 anos, precisa madrugar diariamente para chegar ao local de trabalho. A rotina do morador de Itaboraí, na região metropolitana, começa às 5h30 da manhã. Só assim ele consegue percorrer o trajeto de mais de 40km no transporte público intermunicipal para chegar às 8h na Tijuca, zona norte do Rio, sem contar com imprevistos como engarrafamento.

O deslocamento no trânsito consome quase 5h por dia do técnico em cinco ônibus diferentes durante a baldeação. Além da precariedade do serviço, o intervalo de espera e o alto custo das passagens também são reclamações frequentes dos passageiros. Allan, por exemplo, gasta R$40 reais com Bilhete Único por dia no transporte, cerca de R$900 por mês. “Acho que a população deve fazer sua parte votando melhor e cobrando nossos direitos aos empresários que ganham muito dinheiro em cima do trabalhador”, opina.

“Os ônibus não tem ar-condicionado, pago passagem cara, além de todo desconforto. Já começo meu dia cansado devido a essa dificuldade. Passo perrengue com ônibus quebrado, engarrafamento, assalto, como a maioria dos trabalhadores que têm que atravessar do outro lado da ponte [Rio-Niterói] para o Rio de Janeiro”, conta o trabalhador.

Juciano Rodrigues, pesquisador do Observatório das Metrópoles do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), aponta que a crise fiscal que se encontra o Rio de Janeiro prejudica ainda mais a oferta de serviços coletivos essenciais como a mobilidade. Outro fator é que a configuração econômica do estado, com forte concentração dos postos de trabalho no centro e na zona sul, a parcela mais pobre da sociedade percorre as maiores distâncias, gasta mais tempo e dinheiro.

“O cenário de crise atinge todo mundo, mas de forma desigual. Pra quem mora longe e é de baixa renda piora ainda mais. É difícil falar que existe perspectiva de melhora dada a situação política e econômica do país atualmente. O investimento em transporte depende muito do governo federal, o estado do Rio não tem capacidade nenhuma de investimento”, avalia Rodrigues.

Pior do mundo

Uma pesquisa divulgada ano passado pelo instituto Expert Market, dos Estados Unidos, aponta o Rio de Janeiro com o pior transporte do mundo entre as 74 cidades avaliadas. O estudo se baseou em critérios como tempo de viagem, distância percorrida, tempo de espera nos pontos de ônibus, baldeações e o custo mensal do transporte. Na classificação das capitais mundiais, Brasília (68ª posição), Salvador (70ª) e São Paulo (72ª) também estão na lista entre as dez piores.

Rodrigues lembra que o problema do transporte por ônibus no Rio é atravessado por uma estrutura dominada por oligopólios, interesse de grupos econômicos e falta de transparência. Réu confesso, o ex-governador Sérgio Cabral admitiu este ano o esquema de propina na Fetranspor na Operação Ponto Final, da Lava-Jato, que investiga as relações entre empresários de ônibus e políticos.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) entrou com uma ação civil pública de responsabilização contra a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) pelo pagamento de vantagens indevida. A ação tem como objetivo acessar os dados por meio de órgãos de controle sobre a operação do serviço e o sistema de bilhetagem eletrônica.

Edição: Vivian Virissimo