“Eu não quero falar com a UNE, nem com a Ubes; eles não foram eleitos. Eu nunca fui filiado à UNE”, afirmou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, em tom de desdém, em sessão da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (22).
A confusão começou quando a presidente da comissão, deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), disse que abriria o microfone às entidades estudantis presentes, por dois minutos. Integrantes da base aliada do governo de Jair Bolsonaro (PSL) rebateram a deputada e tentaram impedir que os estudantes falassem. Houve bate-boca e a sessão, que começou às 9h30, foi encerrada às 14h. O deputado Delegado Waldir (PSL-GO), por exemplo, gritava “Porra de UNE não vai falar aqui, não”.
Seguranças da Casa contiveram à força Marianna Dias e Pedro Gorki -- presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), respectivamente --, que tentavam alcançar a mesa da comissão, onde estava o ministro, para fazer perguntas.
Marianna Dias reagiu quando os seguranças tentavam barrar sua passagem e afirma que quase teve a roupa rasgada. Para ela, é um absurdo que as demandas do povo brasileiro sejam desrespeitadas em um espaço legítimo: a casa do povo.
“Foi combinado no início da audiência pública que haveria um espaço para a sociedade civil falar através dos estudantes e, no final, alguns deputados, que são base do governo, ficaram muito furiosos com o fato de ter uma representação dos estudantes através da fala”, analisa.
Em meio a gritos e agressões, o ministro se negou a escutar as entidades estudantis e deu as costas à sessão. Em seguida, foi "escoltado" até a saída do plenário por servidores e deputados, entre eles Waldir.
“Se agredir estudantes e chamar estudante de vagabundo na Câmara dos Deputados não for uma expressão muito dura, cruel e arrogante, e a tentativa de se impor ao Brasil um Estado de exceção, de silêncio, eu realmente não sei mais o que é ditadura e Estado de exceção”, alerta Pedro Gorki sobre a roupagem do governo eleito.
Para o estudante secundarista, os últimos posicionamentos de Bolsonaro -- ao chamar os milhares de manifestantes em prol da Educação de “idiotas úteis” e resumir as universidades públicas à “balbúrdia” -- resultam em atitudes como a de Abraham Weintraub. De acordo com Gorki, a atitude do ministro representa o posicionamento de todo o governo.
“O desleixo do ministro da Educação em ouvir a opinião dos estudantes mostra ainda mais o descompromisso desse governo em ouvir a população e, principalmente, os estudantes do país. A ação de hoje mostra a intenção do governo de silenciar a juventude, mas a nossa resposta é dizer que, com ou sem microfone na Câmara dos Deputados, eles vão ter que nos ouvir”, finaliza.
Comissão
Na Comissão de Educação, o ministro defendeu a proposta de ampliar as verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), no entanto, pretende “cobrar metas” de estados e municípios como contrapartida. Ele também foi a favor da cobrança de mensalidades na pós-graduação, além de receitas próprias nas universidades públicas.
“Eles têm um horror mesmo a esse processo que está acontecendo no Brasil, que é o da vontade popular, da democracia e do direito à manifestação. Para eles, é melhor fingir que são surdos e não ouvir o que o povo está falando na rua, e que nós falaríamos ali enquanto representantes dos estudantes”, afirma Dias.
Durante a sessão, a presidenta da UNE aproveitou para reiterar a manifestação do próximo dia 30 contra os cortes na Educação.
“O ministro, hoje, é o representante do governo na Comissão de Educação. Se ele se levanta e dá as costas aos estudantes e à sociedade organizada que queria se manifestar, isso significa que eles estão mesmo surdos às vozes das ruas, da população e dos movimentos sociais. Isso é uma gasolina para a nossa luta do dia 30 de maio. Mais do que nunca, é necessário que a gente vá para as ruas dar resposta a esse governo com um caráter extremamente autoritário. O ministro só estava ouvindo os deputados por obrigação e não por vontade de construir coletivamente a saída para os problemas da educação do nosso país”, disse.
Nas redes sociais, deputados repudiaram a agressão e a censura aos estudantes:
Edição: Aline Carrijo