Zoroastro estava sempre disposto a atender quem precisasse dele
Gosto de encontrar amigos, conversar bebericando umas e outras, mas isso vai se tornando cada vez menos frequente.
Comemorar aniversário e encontrar os amigos em botecos são eventos que vão se tornando pouco comuns, por vários motivos, desde a falta de grana até doenças. Sem contar que muitos mudaram para longe e outros já foram para o beleléu.
Quando gente que já dobrou o cabo da boa esperança, com algumas décadas de vida, encontra amigos da nossa geração, afora as queixas pelo momento horroroso que passa o Brasil, os assuntos mais comuns são doenças, remédios, falta de trabalho e de dinheiro, decepção com algum parente ou velho conhecido, coisas por aí.
E não é raro bater um certo saudosismo, lembranças dos bons namoros, de viagens divertidas, aventuras e gandaias, e de um tempo de esperança, quando achávamos que o mundo caminhava sempre pra frente...
Os encontros mais frequentes de velhos amigos são em velórios. E aos assuntos de sempre juntam-se piadas e perguntas sobre quem será o próximo.
O assunto velório me faz lembrar do Zoroastro, um sujeito que morava num povoado da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Era uma espécie de faz-tudo, pau pra toda obra. Fazia serviços de marceneiro, pedreiro, trabalhos de todo tipo. E estava sempre disposto a atender quem precisasse dele.
Um serviço que fazia com gosto era quando morria alguém. A família do defunto sempre fica confusa, atrapalhada, e ele providenciava tudo, desde a burocracia exigida para o enterro até o fabrico do caixão. Mas mesmo com toda essa prestatividade, não era todo mundo que gostava dele. O motivo? A falta de simancol.
Um exemplo foi quando o seu Juvenal, de 91 anos, ficou viúvo, perdeu a mulher que tinha feito 89. O Zoroastro cuidou de tudo e nem falou em dinheiro. Uma semana depois do enterro, o seu Juvenal conversava na praça com o filho Valdemar, quando ia passando o Zoroastro.
Valdemar chamou o Zoroastro e, com todo o respeito, pediu:
— Eu queria que você fizesse as contas da despesa do enterro da mãe.
O Zoroastro pensou um pouco, olhou com o rabo do olho para o velho Juvenal e respondeu:— Ara... Deixa juntá.
Edição: Michele Carvalho