O Sertão Nordestino (o Semiárido) já foi região de grandes riquezas no Brasil. Porém de gigantescas desigualdades e injustiças. Aqui foi o espaço do binômio Gado-algodão, se completando com a policultura de subsistência. Gado e o algodão participando, através das relações mercantis, na economia nacional.
Essa estrutura econômica dava sustentação a uma dinâmica social e uma conformação política tremendamente desigual, de características semelhantes ao feudalismo europeu. Às oligarquias nordestinas não interessava a industrialização, a modernização e mudança dessas relações. Ao contrário, queriam a presença do Estado para reforçar essa estrutura arcaica.
Assim, surgiu, ainda no século XIX, a "Indústria da Seca". Nela, se usava a realidade social de fome e miséria, quando das longas estiagens, para se carrearem, embolsarem, vultosas quantias, em dinheiro e em obras, basicamente para seus usos e benefícios. Alterar essa estrutura necessitaria de Reforma Agrária, planejamento econômico estratégico, acessibilidade e democratização do crédito. Temas impensáveis na correlação de forças e nos valores hegemônicos dos anos 60.
Sob essa estrutura socioeconômica e política, de caráter concentrador de rendas e excludente de gentes, o Semiárido brasileiro se conecta à lógica do processo de industrialização dependente brasileiro, como espaço fornecedor de mão-de-obra. Sem perspectivas de emprego e rendas na Região, restava como opção de jovens e adultos, no esplendor de sua capacidade laboral, abandonar as terras semiáridas para tornarem-se a superpopulação da força de trabalho nos centros econômicos mais dinâmicos do país.
Essa mão-de-obra excedente, migrante do Nordeste, especialmente do Semiárido, se ajustava na economia de um país que renunciava ao fortalecimento de um mercado interno em função de atrair as corporações econômicas internacionais, tendo como principal atrativo a oferta de mão-de-obra barata, farta, advindas de todas as partes do Brasil, mas com gigantesca maioria dos sertões semiáridos.
As mudanças estruturais ocorridas no território semiárido, com a falência da economia baseada no binômio gado-algodão e policultura de subsistência, provocando importante mudança na estrutura socioeconômica, quando fazendas falidas deram espaços a milhares de assentamentos da Reforma Agrária reconfiguraram a face do território.
Na mesma direção, as políticas sociais e de infraestrutura desenvolvidas no Semiárido, na primeira quinzena do século XXI, impactaram significativamente nessa estrutura essencial para um capitalismo de caráter dependente e de superexploração como o brasileiro.
Iniciativas simples, às vezes meramente assistencialistas, que permitiram aos sertanejos do Nordeste cessarem seu fluxo migratório repercutiram significativamente no caráter de superexploração do sistema.
* Professor da UFPB
Edição: Heloisa de Sousa