Alexander Figueira, de 26 anos, é morador do bairro Jardim Primavera, em Duque de Caxias. Desempregado há mais de um ano, o jovem encontrou nos serviços de delivery dos aplicativos uma possibilidade de não ficar parado e ganhar um dinheiro. Figueira viaja durante quase duas horas de trem todos os dias da sua casa, na baixada fluminense, até o centro do Rio de Janeiro para fazer entregas pela Uber Eats. A bicicleta que utiliza para trabalhar é alugada.
“Eu trabalho no horário do almoço até às nove da noite, porque é a hora que está perto do último trem sair da Central do Brasil. Têm muitos [entregadores] que ficam até meia noite, três da manhã. Tem dias em que eu trabalho mais de 12 horas”, relata.
Figueira é maqueiro de profissão e tem um filho de dois anos. Desde o ano passado tem sobrevivido a base de “bicos”. A média de rendimento semanal, com uma rotina de 8 a 12 horas de trabalho por dia, é de R$ 100 por semana. A Uber Eats, por exemplo, não fornece nenhum tipo de seguro no caso de roubo ou acidente e o entregador ainda arca com os R$ 50 da mochila necessária para realizar a atividade.
O caso de Figueira, assim como de outros entregadores das empresas de aplicativo, reflete a precarização das relações de trabalho num processo que ficou conhecido como uberização, em que as empresas são apenas fornecedoras de tecnologia de serviço intermediário, não assumindo nenhuma responsabilidade trabalhista. Além da distância que precisa percorrer e do tempo de trabalho, ele depende das bicicletas alugadas pelo sistema Bike Rio para trabalhar.
“Durante a semana a gente não pode andar de bicicleta no trem e não têm como vir pedalando da baixada aqui pra baixo, a vantagem que encontramos foram as 'bikes do Itaú' que também tem desvantagem porque a gente só tem direito a usar uma hora e repor no lugar e esperar 15 minutos pra tirar e usar. Nesses 15 minutos pode surgir uma chamada pra gente pegar um lanche em um lugar próximo ou longe. Mas é o que a gente tem no momento. Eu pago R$ 20 por mês para alugar a bicicleta”, explica.
Condições de trabalho
As grandes startups se tornaram a única possibilidade de trabalho para boa parte da população brasileira. No Rio de Janeiro, a situação não é diferente. A taxa de desemprego anual no estado ficou em 15% em 2018, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2014, o estado do Rio se destaca como o que mais cresceu no índice de desempregados do país.
A deputada estadual Mônica Francisco (PSOL) preside a Comissão de Trabalho, Seguridade e Legislação Social na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Para ela, as empresas que atuam no ramo de serviços por aplicativos possuem uma série de problemas entre eles a precarização da mão de obra. A parlamentar afirma que as startups desempenham um papel importante no mercado, mas reconhece que é preciso criar mecanismos nas leis que tornem a relação de trabalho mais equilibrada.
“Acho importante que a modernidade traz para a gente velocidade de serviços, comodidade para os clientes, possibilidade de abertura de novos mercados, mas que precisam de uma regulação que não seja via única, vinda da cabeça dos legisladores, mas que seja a síntese da construção coletiva. Então, a importância de se aproximar dessas empresas para produzir elementos na legislação de controle social, recolhimento de tributos e que seja uma atuação que não venha a diminuir postos [de trabalho]”, ressalta.
Lucro
As empresas que lideram o mercado de delivery no Brasil são a iFood, a Uber Eats e a Rappi. Dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostram que o setor fechou 2017 com faturamento acima dos R$ 10 bilhões. A área de serviços por aplicativos não para de crescer. Em levantamento divulgado no final de abril, a Uber estava com um valor de mercado estimado entre US$ 80,5 bilhões e US$ 91,5 bilhões.
Nesta quarta-feira (8) houve um indicativo internacional para uma paralisação dos motoristas da Uber. No Brasil, parte dos condutores aderiram ao movimento contra a empresa devido a abertura de capital na Bolsa de Valores, marcada para esta sexta-feira (10). Eles exigem um aumento no repasse da Uber e também que a plataforma aprimore a segurança para os motoristas.
Edição: Mariana Pitasse