Diante de Jesus ninguém ficava indiferente. Para os fracos, suas palavras eram suaves e ternas e não lhes impunha jugo algum. Para os fortes e poderosos, palavras duras e exigências. A conversão por ele pregada implicava no fim do sistema de exploração tanto dos poderosos da terra quanto de seus superiores romanos.
Qual a diferença entre o “Ano da Graça” com o qual Jesus abriu sua missão e o “Ano da Misericórdia” que marcou o início do pontificado do Papa Francisco? Nenhuma! Graça e misericórdia são duas palavras para falar do mesmo amor de Deus que vence o medo das religiões e impérios que massacram a pessoa humana.
Jesus iniciou sua missão na periferia da Galileia, região desprezada pelos judeus e temida pelos romanos como fonte de distúrbios e provocações. O Papa foi a Lampedusa acolher os desprezados da Europa e do mundo. Jesus reuniu junto a si desempregados, pescadores, coletores de impostos e mulheres para fazer deles os anunciadores da justiça e da graça de Deus. O Papa Francisco se reuniu com os Movimentos Sociais e proclamou que a justiça é que nenhuma família pode ficar sem teto, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem emprego.
O Filho do Homem não tinha onde reclinar sua cabeça e enviou seus discípulos sem mochila, com apenas uma túnica e um par de sandálias. O Papa recusou desde o princípio e persiste em manter-se distante de palácios, roupas, sapatos, faustos e honras dos príncipes deste mundo e da Cúria Romana. Jesus recusou-se a condenar a mulher que lhe foi apresentada como adúltera. Francisco lembra que Jesus é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e pergunta: “quem sou eu para condenar?”
O Papa é amado e odiado por uma única razão: ele insiste em ser simplesmente um cristão. E seu cristianismo não se resume à afirmação de uma pertença religiosa. Seu cristianismo é uma fé, uma aposta de vida, total, absoluta e, ao mesmo tempo, cotidiana e performática. Assim como Jesus, ele não apenas fala. Ele também faz. E seu agir, provoca amor e ódio como todos os profetas que antes dele percorreram o caminho da Esperança que passa, necessariamente, pela cruz.
* Vanildo Luiz Zugno é doutor em Teologia e frei da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos
Edição: Marcelo Ferreira