Coluna

Por que as universidades representam uma ameaça para o governo Bolsonaro?

Imagem de perfil do Colunistaesd
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, quer cortar recursos de universidades que praticam 'balbúrdia'.
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, quer cortar recursos de universidades que praticam 'balbúrdia'. - Matheus Alves
Sucatear instituições públicas para dar mais espaço à iniciativa privada

Abril refletiu fortemente o nível de irresponsabilidade e a total ignorância do governo federal e seus aliados com a educação brasileira. Uma série de fatos demonstra a falta de compromisso e a intenção de patrulhamento ideológico, em especial com as universidades públicas. 

Com essas ações, o governo se comporta como verdadeiro inimigo da educação e pretende atingir objetivos econômicos, políticos, sociais e culturais que fazem nosso país retroceder décadas em desenvolvimento.

Como acertadamente afirmava Darcy Ribeiro: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é projeto”. Diante dessa grave ameaça não podemos vacilar; é preciso enfrentar os ataques à educação pública, defender a autonomia universitária e a pluralidade de ideias.

Resgato os acontecimentos de abril:
* Dia 24:  instalação da CPI das universidades estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP);
* Dia 26: o twitter de Bolsonaro sobre “descentralizar” investimento na área de humanas, em especial nas faculdades de filosofia e sociologia;
* Dia 29: o projeto de lei proposto pela deputada Caroline de Toni (PSL-SC), que visa retirar de Paulo Freire o título de patrono da educação brasileira;
* Dia 30: o anúncio do MEC de corte de 30% nas verbas de custeio inicialmente para três universidades federais - UFBA, UFF e UnB -  por motivações ideológicas. Depois de inúmeras críticas o corte se estendeu para todas as universidades federais.

Falsas acusações
As motivações para cada uma das ações oscilam entre suposta má gestão de recursos públicos - chegando a levantar suspeitas de desvio de finalidade destes -, até suposto mau desempenho acadêmico. 

Porém, nenhuma dessas motivações vem acompanhada de fatos objetivos que as justifiquem. O fio que liga todos esses ataques explicitamente é o combate ideológico contra a esquerda, surfando na onda conservadora que há no seio da sociedade brasileira e na derrota ideológica que possibilitou a ascensão da extrema direita no país, culminando na eleição de Bolsonaro.

A ofensiva ideológica do governo Bolsonaro contra as universidades passa pela negação do conhecimento científico e pela exaltação da ignorância. Negar o papel social da ciência e do conhecimento servem para desmontar o Estado brasileiro; as universidades precisam ser desconstruídas ao ponto de perderem credibilidade na sociedade.

Isso fica escancarado quando o governo acusa de mau desempenho acadêmico as melhores universidades do país, aquelas que estão mais bem posicionadas nos rankings nacionais e internacionais, como é o caso das três federais (UFBA, UFF e UNB) e das três estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP).

É é importante rememorar que os gestores da UFMG e UFSC sofreram com ações abusivas e repressivas - que até hoje não foram esclarecidas - mas que levaram ao trágico suicídio do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier.

O conjunto das ações, além de tudo, é inconstitucional. Fere o art. 207 da Constituição Federal, que assegura a autonomia universitária, elemento fundamental para que as universidades produzam ciência, provoquem debates e proponham soluções para os problemas do país independente da mudança de governos e interesses políticos. 

Em tempos de total afronta ao Estado democrático e de direito, é preciso defender a Constituição para explicitar a contradição do governo, mas, ao mesmo tempo compreender que não é suficiente. É necessário ir além! 

O que quer o governo Bolsonaro com estes ataques?
O projeto do atual governo federal para educação brasileira está em perfeita consonância com o projeto anti-nacional, anti-popular e anti-democrático que está sendo implementado; é o golpe em curso. Trata-se de um projeto entreguista e de realinhamento do nosso país à economia mundial e aos interesses do capital financeiro. 

O corte de 30% nas verbas das universidades federais explicita o objetivo de sucateamento das instituições públicas e abertura ainda maior do país para a iniciativa privada no setor da educação. 

Transformar a totalidade da educação brasileira em produto para compra e venda, e, portanto geração de lucro para os conglomerados internacionais do ramo.

O sucateamento das universidades públicas também impacta no desenvolvimento nacional, pois são elas as responsáveis quase que exclusivamente pela pesquisa no nosso país. 

É no tripé ensino, pesquisa e extensão que reside a nossa possibilidade de futuro e de um país que não se limite a exportar produtos agrários e dependa de importação de tecnologia e inovação. Essa é a disputa de projeto que está em jogo!

Para ter sucesso nessa empreitada, o governo precisa destruir a capacidade de resistência nas universidades, combatendo-a ideologicamente e, ao mesmo tempo, sucateá-la para diminuir sua produtividade ou até extinguir a sua existência.

Não nos iludamos: o corte no orçamento das universidades é apenas a cereja do bolo. Lembremos da Emenda Constitucional 95, da reforma do ensino médio e do fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. 

15 de maio: é dia de contra-atacar!
Para combater esse grave retrocesso precisamos nos valer da força no terreno que é mais favorável para um projeto de desenvolvimento nacional, construir ampla unidade na luta em defesa da educação dentro das universidades. 

É fundamental conquistar a sociedade para essa defesa do pensamento crítico e plural, comprometido com os interesses da classe trabalhadora. Sem isso o futuro das universidades está destinado a ocupar um lugar no museu da história. 

A União Nacional dos Estudantes convocou a rede do movimento estudantil a organizar uma mobilização 15 de maio em defesa das universidades. Nesse momento já estão acontecendo assembleias e plenárias organizativas para preparar esse dia de luta em articulação com os docentes e técnicos.

A tarefa de todos e todas que entendem a importância da universidade pública para o nosso país é somar nessa construção e transformar o mês de maio numa ampla resistência em defesa da educação e de um projeto de desenvolvimento nacional, democrático e popular! É hora de contra-atacar!

Edição: Daniela Stefano