Nos dias 26 e 27 de abril, construiu-se o seminário “As perspectivas do semiárido brasileiro no contexto geopolítico mundial”, na cidade de Solânea (PB). Com o objetivo de formular sobre a construção e evolução do semiárido até o presente momento em que se encontra um grande desmonte nacional do território; e assim, através dessa atividade, sintetizar o semiárido em um projeto popular para o Brasil.
Durante o evento, o espaço facilitado “Brasil e Semiárido no cenário geopolítico mundial” inspirou grandes conversas sobre a necessidade de fazer uma constante análise da conjuntura, posto que o cenário da hegemonia mundial passa agora por um processo de reconfiguração, onde os Estados Unidos perde a primeira posição do ranking de maior Produto Interno Bruto (PIB) para a China, segundo o FMI em 2014. Levando isso em consideração, os diálogos pontuaram a importância da descolonização do pensamento – e assim, o povo brasileiro deve se entender como protagonista de sua história para alcançar sua autonomia e negociar com outras condições.
Com esse cenário em vista, Thais Moura, a representante da Articulação Semiárido Brasileiro - ASA/SE no seminário, que também é coordenadora do coletivo de comunicação do Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA/SE, pesquisadora do Laboratório de Estudos Rurais e Urbanos - LABERUR e mestranda em Geografia pelo PPGEO/UFS, respondeu algumas perguntas relacionadas a autonomia do semiárido brasileiro:
BdF- PB - Quais as principais conquistas e avanços podem ser destacados na luta pela convivência no Semiárido Brasileiro?
Thais Moura - Penso que o principal avanço tem ligação com a consolidação do paradigma da Convivência com o Semiárido, visto que no Brasil sempre vigorou as políticas de combate à seca, que se materializava com ações pontuais e emergenciais – ou seja, que faziam desse fenômeno natural uma moeda de troca de votos. Outro aspecto é o fortalecimento dos movimentos sociais, ONGs e redes que, com muita luta e mobilização, atuam pautando a conquista de direitos e as políticas públicas para o semiárido, a exemplo das politicas estruturais como a “Luz para todos”. Além disso, um avanço inegável nesse território são as implantações de tecnologias sociais, e destaco principalmente as cisternas, estas que cumprem o papel de armazenamento do bem mais escasso no semiárido, porém mais precioso para vida, que é a água. Destaco também a valorização, resgate e multiplicação das sementes crioulas, acredito que esse processo é um importante passo para que os camponeses do semiárido sejam autônomos sobre o que, quando e como plantar.
Neste contexto de retrocessos nas políticas públicas, qual é a principal ferramenta de comunicação e mobilização social?
Então, eu consigo pensar em duas ferramentas: o rádio e a internet, que a meu ver são ferramentas que conseguem alcançar os espaços mais longínquos, e dessa forma contribuem fortemente para a mobilização social e construção de uma consciência de classe. Penso que com a linguagem certa, podemos falar para as mentes e corações das pessoas, ora demostrando os retrocessos, ora mobilizando e fortalecendo a luta.
Quais as expectativas de encaminhamento deste seminário?
Eu creio que o seminário é o pontapé inicial de uma construção coletiva e ampla do projeto popular para o semiárido que respeite e preze pelas diversas dimensões da vida dos sujeitos. Assim, as expectativas são as melhores, certamente construiremos um amplo panorama das experiências exitosas, mas também dos desafios para a construção do semiárido que queremos, reafirmaremos a convivência com o semiárido e a necessidade da transição agroecológica com vistas para o bem viver.
Edição: Heloisa de Sousa