Coluna

Guerra é guerra, dizia o procurador

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Acusado de censura, Alexandre de Moraes revogou uma decisão dele próprio, publicada no início da semana
Acusado de censura, Alexandre de Moraes revogou uma decisão dele próprio, publicada no início da semana - Agência Brasil
Sistema de justiça se transformou em arena de ativismo político

A guerra aberta entre ministros do STF e procuradores do Ministério Público, especialmente os ligados à Operação Lava Jato, ocorreu coincidentemente na semana em que a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff completou três anos. Mais um capítulo que demonstra como o Brasil foi jogado num processo em que a Constituição é interpretada ao sabor da conveniência e o sistema de justiça se transformou em arena de ativismo político, com antigas pedras agora sendo vidraça. Bolsonaro, que em última análise é o resultado desta crise institucional, segue tentando prestar contas à sua base social mais fiel, com políticas de varejo para agradar ruralistas e caminhoneiros, enquanto Paulo Guedes sinaliza com privatizações.

Vamos ao resumo. Não deixe de conferir as indicações do Boa Leitura, que amarram bem alguns dos acontecimentos da semana.

Briga de toga no escuro. Na quinta (18), Alexandre de Moraes revogou uma decisão dele próprio, publicada no início da semana, que tirava de circulação reportagem da revista Crusoé sobre Dias Toffoli. Na sexta (12), a reportagem apontava que, em documento juntado aos processos da Lava Jato em Curitiba, Marcelo Odebrecht dizia que Toffoli era o "amigo do amigo do meu pai". Ministros próximos ao presidente do STF creditam o desgaste a que ele tem sido submetido nos últimos dias a uma ação da Lava Jato, com objetivo de constranger o STF para evitar que Corte volte atrás na decisão de autorizar prisões após condenações em segunda instância. No meio da confusão, a procuradora geral da República Raquel Dodge chegou a arquivar a investigação determinada pelo STF sobre "fake news" contra membros do Supremo, decisão inédita e que reforça a briga institucional. O site Nexo traz um bom resumo do que foi o choque institucional da semana.

A censura à revista foi criticada por diferentes setores. Mas é importante lembrar, como faz a Carta Capital, que a revista Crusoé e o site Antagonista, pertencentes aos mesmos donos, foram dois dos principais receptores dos vazamentos seletivos da Operação Lava Jato. E que o próprio Antagonista aplaudiu a decisão de Luiz Fux, em 2018, que censurou previamente jornalistas de entrevistarem Lula na prisão. "Se nos tempos da eleição, uma entrevista poderia favorecer o PT, então a Corte teria trabalhado de modo a favorecer Bolsonaro?", perguntam-se jornalistas do El País também impedidos de entrevistar Lula.

O Painel da Folha desta sexta (19) relata que integrantes do STF e dirigentes de partidos de esquerda e de direita tratam o caso como mais uma mostra da desordem do sistema político e judiciário iniciado há três anos. "Os questionamentos ao STF e a divisão de seus membros agravam a sensação de que há vácuo de liderança e risco de acefalia no país", diz a coluna. Como afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, "muitas vezes o Supremo se calou quando a lei era rasgada, e isso está cobrando o seu preço". O partido divulgou nota relacionando a crise da semana ao processo que resultou no impeachment de Dilma e na posterior eleição de Bolsonaro.

Como rescaldo da tentativa de encerrar a crise por parte do STF, Dias Toffoli suspendeu a decisão que proibia Lula de dar entrevistas.

Em tempo. Daqui um mês começa o processo interno no MPF que vai escolher o próximo procurador-geral da República. Existe a grande possibilidade de que Bolsonaro não respeite a tradição da lista tríplice formada pelos membros do MPF, com um candidato simpático ao bolsonarismo correndo por fora. Porém, o episódio da semana teria fortalecido Raquel Dodge internamente. Na crise institucional, ganha quem grita mais.

Com relação a Lula, a expectativa é para o julgamento de recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), marcado para terça (23). Será a primeira vez que um colegiado de tribunal superior discutirá de fato a condenação de Lula no caso do triplex no Guarujá, como mostra este texto do site Justificando. Além de pedir que a condenação seja anulada, outros argumentos da defesa podem levar à redução da pena imposta a Lula. Caso por exemplo o STJ reduza a pena para o mínimo previsto em lei - um dos pedidos da defesa -, Lula pode passar para o regime semiaberto. Em outra frente, Gilmar Mendes retirou do plenário virtual da Segunda Turma do STF o julgamento de mais um pedido de liberdade de Lula. Dessa forma, o caso será encaminhado à sessão presencial do colegiado. No entanto, ainda não há data prevista.

Enquanto isso, o Brasil regride. Inapto para tocar a Reforma da Previdência com a celeridade que o mercado financeiro deseja e com a economia dando contínuos sinais de paralisia, resta a Bolsonaro jogar para a torcida. Os últimos dias foram pródigos em ações que visam basicamente a prestar contas para sua base social, cada vez mais reduzida. Um exemplo é o anúncio de Bolsonaro de que barrou a instalação de oito mil radares nas rodovias federais, o que se soma à pretensão do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de enviar ao Congresso um projeto ampliando de 20 para 40 pontos o limite exigido para a suspensão da carteira de habilitação. São medidas que agradariam os ouvidos dos caminhoneiros, mas aumentariam a barbárie nas estradas. Reportagem da Folha de São Paulo mostrou que, nas vias da União onde já funcionam os radares, houve redução média de 21,7% de mortes, enquanto o índice de acidentes caiu 15%. Leia mais sobre os caminhoneiros na seção Radar.

Na área ambiental, a ideia também é liberar geral, agradando os ruralistas ainda que isso custe o desmantelamento da nossa frágil proteção ambiental.. Ainda no dia 11, o governo criou um órgão regulatório com o poder de perdoar ou revisar multas ambientais, "uma espécie de balcão da impunidade", como definiu um representante do Greenpeace. Bolsonaro chegou a desautorizar uma ação do Ibama contra roubo de madeira dentro da Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em Rondônia, contrariando um decreto de 2008 que permite a inutilização de equipamentos usados em crime ambiental. Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Adalberto Eberhard pediu demissão dois dias depois de o ministro Ricardo Salles ter determinado investigar funcionários do órgão por não comparecerem a um evento em que ele estava presente no interior do Rio Grande do Sul. Com a saída de Eberhard, Salles voltou a falar sobre uma fusão entre o ICMBio e o Ibama. Enquanto o ICMBio é responsável por 335 unidades de conservação federais, o Ibama atua como polícia ambiental e faz o trabalho de fiscalização e a execução de política de licenciamento ambiental e uso dos recursos naturais. A Ascema, associação dos servidores públicos da área ambiental, publicou uma nota rebatendo os ataques do ministro e destacando o trabalho do ICMBio. Ainda na área ambiental, no Twitter o doutor em Zoologia Henrique Costa revelou que o Ministério da Agricultura está recomendando ao Ministério do Meio Ambiente a suspensão de uma portaria de 2014 do ICMBio que listou as espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. E o senador Flávio Bolsonaro apresentou na terça (16) um projeto de lei que pretende acabar com a exigência de reserva legal em propriedades rurais.

Por fim, o governo publicou decreto que extingue conselhos de conselhos de participação social no âmbito federal. Reportagem do Brasil de Fato elenca alguns dos conselhos que podem ser extintos e explica a abrangência do decreto. Deputados do PSB e do PT apresentaram projetos para sustar os efeitos do decreto. O PSOL também protocolou projetos para sustar os efeitos deste decreto e de outros, sobre política de drogas e de alfabetização, e de anistia de infrações ambientais. O partido também entrou com ação popular na Justiça Federal pedindo a anulação do decreto que extingue conselhos de participação social.

RADAR

Brasil caminhoneiro. Ainda que tente não desagradar os caminhoneiros, como vimos acima, Bolsonaro corre o risco de encarar uma greve deste setor simpático ao bolsonarismo, mas um tanto difícil de controlar. Seis dias depois de Bolsonaro mandar segurar o preço do diesel na Petrobras, com medo da revolta dos caminhoneiros, a empresa anunciou na quarta (17) um acréscimo de R$ 0,10 no preço do diesel, elevando o valor do combustível para R$ 2,24 por litro. Segundo Paulo Guedes, Bolsonaro teria dito que não interferiria mais na política de preços da Petrobras. Para compensar, o Planalto anunciou medidas secundárias que também estavam na pauta dos caminhoneiros, como a liberação de R$ 2 bilhões para obras em rodovias, além de uma linha de crédito do BNDES para caminhoneiros autônomos que queiram investir em manutenção dos caminhões e compra de pneus, com teto de até R$ 30 mil por pessoa. A tabela de frete, porém, ficou fora dos anúncios. Reportagem da Agência Estado publicada nesta quinta (18) mostra que a categoria está dividida, até porque os caminhoneiros possuem diferentes lideranças em cada região: enquanto uma ala mais radical promete uma greve na próxima semana, outras preferem esperar mais, alegando que os caminhoneiros não têm condições financeiras de segurar uma greve, além da própria proximidade da categoria com Bolsonaro. Duas associações importantes afirmaram em notas que o pacote de medidas não atende às principais demandas da categoria e o reajuste no preço do diesel aumentou ainda mais a tensão.

A solução é entregar o Brasil. Dando sequência ao giro de notícias sobre a destruição do Brasil, é importante ficar atento a estas outras informações e seus desdobramentos. A Petrobras teria decidido vender a partir de junho deste ano 13 refinarias de petróleolocalizadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que tinham capacidade de refinar 2,2 milhões de barris por dia em 2018. Já o presidente do Ibama decidiu ignorar recomendações técnicas feitas pela equipe do próprio órgão de fiscalização ambiental e autorizar o leilão de sete blocos de petróleo localizados em regiões de alta sensibilidade, em áreas que incluem o pré-sal. Texto no site do Greenpeace ajuda a entender o tamanho do problema. Em entrevista à Globo News, Paulo Guedes sinalizou com um pacote de privatizações no próximo período. "Tem empresas que vão ser privatizadas que vocês nem suspeitam ainda", disse o ministro, e a bola da vez seriam os Correios.

Abril indígena. A pedido do Gabinete de Segurança Institucional, comandado pelo general Augusto Heleno, Sérgio Moro autorizou o uso da Força Nacional de Segurança na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, por 33 dias desde a última quarta (17). É situação para ser acompanhada, já que entre os dias 24 e 26 de abril ocorre o tradicional Acampamento Terra Livre e há muita tensão, em função das declarações de Bolsonaro contra os indígenas, da promessa de revisão de demarcações, do desmonte da política de saúde indígena, entre outras ações que empoderam grileiros e desmatadores. No horizonte dos 33 dias estabelecidos por Moro, estão também o Dia do Trabalhador e eventuais protestos contra a reforma da Previdência. A Articulação dos Povos Indígenas (APIB) divulgou uma nota: "Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado a livre manifestação com tropas armadas", diz o texto.

Ameaças de morte. Sempre dispostos a apontar o dedo para os inimigos, os principais nomes do bolsonarismo ficaram como diante das denúncias de uma deputada do PSL de que recebeu ameaça de morte do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro? Isso mesmo, ficaram calados. No dia 10, a deputada federal Alê Silva (PSL-MG) procurou a Polícia Federal afirmando ter ficado sabendo de ameaças por parte do ministro, também do PSL. Ela é a primeira parlamentar a expor a fraude de candidaturas que Marcelo Álvaro teria organizado nas eleições de 2018. Pior do que ficar calado, o PSL está dando um jeito de isolar a deputada: Alê Silva foi removida até do grupo de WhatsApp do PSL e o presidente da sigla, Luciano Bivar, disse que o partido deve suspender a parlamentar. "O próprio PSL não tem funcionado como um partido, mas como um agregado de políticos eleitos que lutam entre si por influência. Muitas vezes com métodos próprios de facção, como ameaçar uma pessoa de morte", afirma o professor Juarez Guimarães, do Departamento de Ciência Política da UFMG, em reportagem do Brasil de Fato que dá o panorama da situação.

Reforma da Previdência. Batendo cabeça na articulação política, o governo não tem conseguido fazer avançar a proposta de Reforma da Previdência na Câmara. Na quarta (17), o inexperiente presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe Francischini (PSL-PR), decidiu adiar a votação para a próxima terça (23). Líderes do chamado centrão querem que cinco pontos sejam retirados da PEC: a mudança nas regras do abono salarial, no FGTS, na idade de aposentadoria compulsória de ministros do STF, troca no foro para julgamento de ações contra o INSS e os dispositivos que retiram da Constituição regras de aposentadoria. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que a decisão de adiar a votação foi um erro, relacionado à falta de organização do governo. A operação adiamento foi atribuída ao PP e ao PR, que têm se queixado da relação do governo com os deputados. Mas não há de ser nada: Onyx Lorenzoni tem uma lista de cargos de segundo escalão com grande projeção regional e, na próxima semana, começa a discutir a distribuição dos postos entre os partidos de centro e centro-direita que ele quer aproximar do Planalto.

ANAIS DA NOVA ERA

Autoplágio. O novo ministro da Educação, economista Abraham Weintraub, apresenta em seu currículo Lattes dois artigos idênticos em periódicos diferentes. A medida é vista no meio acadêmico como um desvio de conduta, já que pode dar a entender que a produção intelectual de um autor é maior do que é na realidade.

Cadê o Queiroz? O ex-policial Fabrício Queiroz anda tão sumido que nem na Record aparece mais. Nesta semana, porém, uma notícia fez o Brasil lembrar que o amigo da família Bolsonaro existe: o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) empregou em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio um funcionário ligado a Queiroz, pivô da crise envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) por suspeita de captação ilícita de salário de servidores no período em que foi assessor do ex-deputado estadual na Assembleia Legislativa. Trata-se de Márcio da Silva Gerbatim, ex-marido da atual mulher de Queiroz e pai da sua enteada. Ele esteve lotado como motorista no gabinete do vereador por dois anos, entre abril de 2008 e abril de 2010, quando foi para o gabinete de Flávio na Alerj. Lá, ganhou o cargo de assessor-adjunto, no qual ficou até maio de 2011. Como diz a matéria da Rede Brasil Atual, os Bolsonaro são mesmo uma família unida. Além de empregar Nathalia Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, Jair Bolsonaro empregou doadores de campanha do filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro (PSC). Em 2016, quando disputou uma vaga na Câmara do Rio pela quinta vez consecutiva, Carlos recebeu doações de pessoas que foram lotadas no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

VOCÊ VIU?

Contos que nos contam. Esta é da série "Basta tirar a Dilma que a economia" melhora.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, considerado uma prévia informal do PIB (Produto Interno Bruto), ficou negativo em 0,73% em fevereiro, em relação a janeiro. Foi a maior contração em nove meses, desde maio de 2018 (-3,1%). Na comparação com fevereiro do ano passado, o índice teve alta de 2,49% e em 12 meses registrou crescimento de 1,21%. O monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou retração de 0,4% em fevereiro na comparação com janeiro. Segundo o indicador, houve recuo em fevereiro nas três grandes atividades econômicas: agropecuária, indústria e serviços. Além disso, o consumo das famílias também caiu, pressionado pelo aumento do desemprego e da inflação da comida e também pela queda na renda. Em janeiro e fevereiro, houve uma queda de 5,2% no número de unidades de itens básicos comprados pelas famílias em relação ao mesmo período de 2018, segundo uma pesquisa da consultoria Kantar. Foi a primeira retração para o período em cinco anos. Reportagem da Folha de São Paulo mostra que a alta da Bolsa de Valores em 2019, na verdade, mascara o pessimismo do capital financeiro com a recuperação econômica. Segundo o texto, os investidores passaram a vender papéis de empresas de consumo ou focadas no mercado interno e estão comprando ações principalmente de exportadoras, o que demonstraria a desconfiança de investidores com a capacidade de crescimento do varejo e com a própria economia brasileira.

Veneno na torneira. Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de uma em cada quatro cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas. Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. Atenção: você pode consultar a situação do seu município para cobrar atitudes.

Execução. O Ministério Público e a Polícia Civil do Rio colheram um indício que reforça o relato de moradores de Manguinhos sobre disparos feitos por snipers do alto da torre da Cidade da Polícia. O exame do corpo do morador Rômulo da Silva, que trabalhava como porteiro na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e foi baleado no peito no dia 25 de janeiro,  mostrou que o tiro que o atingiu veio de cima. Na quinta (18), morreu o catador Luciano Macedo, 27 anos, baleado por oficiais do Exército enquanto tentava prestar socorro à família do músico Evaldo Santos Rosa. Segundo o advogado da família, não foi cumprida a ordem judicial de transferência do catador. Mas está tudo bem: o advogado que defende os nove militares presos por participarem da ação será condecorado pelo Ministério da Defesa. Paulo Henrique Pinto de Mello, que defende o grupo, vai receber a Medalha da Vitória. Segundo o Ministério da Defesa, a condecoração havia sido definida antes de ele assumir o caso.

Virou passeio. Atenção, você que está com problemas com o Leão. Peça uma audiência com o presidente para ver se consegue um alívio. Pelo menos foi o que fez o empresário Neymar da Silva Santos, pai do jogador Neymar, que se reuniu com Bolsonaro e Paulo Guedes na quinta (17) para "prestar esclarecimentos" sobre processo contra o jogador que será julgado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Em dezembro, a Folha de São Paulo mostrou uma cobrança de R$ 69 milhões em impostos e multas feita pela Receita a Neymar. A acusação era de que o jogador sonegou tributos quando foi transferido do Santos para o Barcelona. Lembrando que, em sua recente visita a Israel, Bolsonaro fez um inesperado vídeo para Neymar e para o surfista Gabriel Medina, que retribuíram a gentileza.

BOA LEITURA

Dilma, exclusivo. O Brasil de Fato publicou na quarta (17), dia em que a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff completou três anos, um artigo exclusivo da ex-presidente. No texto, Dilma afirma que foi sabotada nos primeiros meses após a reeleição, acusando a oposição de provocar uma grave crise fiscal. "Para isto, lançaram mão de pautas-bomba que aumentavam gastos e reduziam receitas. Impediam também, de forma sistemática, a aprovação de projetos cruciais para a estabilidade econômica do país. E, nos primeiros seis meses de governo, apresentaram 15 pedidos de impeachment", escreve Dilma. Ela também destaca que o resultado do golpe foi a calamidade econômica e social sem precedentes para o Brasil e reforça a posição de que a liberdade de Lula "sintetiza a luta pela democracia em nosso país". Vale a leitura e o compartilhamento.

Bolsonarismo arrependido. A cientista social e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é uma das pesquisadoras que vêm se dedicando a estudar e compreender quem é e o que pensa o eleitor que levou Bolsonaro à presidência. Em artigo para o Intercept, ela afirma que os diferentes grupos que compõem esse eleitorado vêm demonstrando insatisfação com o governo. O grupo da "masculinidade machucada" pela crise econômica, por exemplo, ainda não viu ainda a situação de emprego melhorar. Aqueles que votaram por falta de opção, segundo a professora, voltaram ao lugar comum "de que político é tudo uma bosta". Num país violento em crise, as trapalhadas do presidente terão cada vez menos apelo se não vierem com mudanças concretas no cotidiano das pessoas, acredita a pesquisadora.

Popularidade em queda. O sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, faz uma aposta em artigo na Carta Capital: a popularidade de Bolsonaro e a aprovação de seu governo vão continuar a cair nos próximos meses. Ele aponta três motivos para a continuidade desta queda: a base bolsonarista é relativamente pequena, as expectativas criadas em torno do governo são difíceis de cumprir na vida real e Bolsonaro é isso daí mesmo, vai reagir com arrogância à queda de popularidade e assim ela continuará caindo.

Sem dias. Vale conferir o especial do Le Monde Diplomatique Brasil sobre os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro. Relações exteriores, direitos humanos, cultura, ciência e educação são alguns dos temas que merecem textos especiais. Destaque para o artigo "O lumpesinato no poder", escrito por Gilberto Maringoni e Artur Araújo, que dialoga com temas tratados nesta edição. "Não há previsibilidade ou rotina possível em um conjunto de indivíduos para os quais vigoram as saídas individuais e a disputa de cada um contra todos", diz o texto.

Liberdade de expressão? Condenado a seis meses de detenção por crime de injúria contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS), Danilo Gentili se colocou como um mártir da liberdade de expressão nas últimas semanas. Porém, ai, porém, o humorista processou pelo menos quatro pessoas por crimes contra a honra – alguns deles criminalmente, ou seja, podem ter como resultado uma pena de prisão. O site Intercept fez um levantamento das açõesmovidas por Danilo Gentili.

Desigualdade. O Brasil tem, de um lado, 122 milhões de pessoas sobrevivendo com renda de até um salário mínimo. De outro, um pequeno grupo de 2 milhões de pessoas concentra a mesma quantidade de dinheiro que 40% da população. A revista Piauí criou uma série de infográficos para explicar a profundidade da desigualdade brasileira.

A superstição do déficit. O economista André Lara Resende, diretor do Banco Central e presidente do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso, tem escrito alguns artigos que contrariam as ditas políticas neoliberais, que voltaram à moda como as pochetes e as polainas."É preciso dar fim à superstição do orçamento equilibrado, não apenas em nome da racionalidade, mas também porque o paternalismo tecnocrático impede o desenvolvimento de uma democracia responsável", escreveu nesta semana no Valor Econômico.

Brasil Privatizado. Vinte anos atrás, o jornalista Aloysio Biondi alertava, ao publicar o clássico O Brasil Privatizado, que o patrimônio do país, construído ao longo de décadas com recursos do povo brasileiro, estava sendo dilapidado. E, pior, que o governo estava usando recursos do Estado para financiar esse crime de lesa-pátria. Filhos do jornalista, Pedro e Antônio Biondi relembram a publicação do livro, que vendeu mais de 170 mil exemplares, trazendo o debate das privatizações para os dias atuais.

Paulo Freire. Tudo é uma questão de eleger um inimigo para manter os perdigueiros mobilizados. Com o governo batendo cabeça, não conseguindo dar resposta a problemas concretos da população e em crise inclusive com sua base fiel, como os caminhoneiros, os filhos de Bolsonaro reforçaram seus ataques ao educador Paulo Freire (1921-1997), apontado como prova de que existe doutrinação de esquerda nas escolas. Ao afirmarem isso, aliás, mostram que nunca leram uma linha de Paulo Freire. Mas enfim. Trazemos alguns textos para compreender melhor essa estratégia e, de quebra, aproveitar para conhecermos um pouco mais o legado do patrono da educação brasileira. "Freire nunca foi comunista, ainda é mais lido nas universidades do exterior do que nas brasileiras, nunca pregou uma educação partidária nas escolas", escreve Sérgio Haddad, doutor em educação pela USP, professor da Universidade de Caxias do Sul e autor de uma biografia de Paulo Freire ainda por ser lançada. O livro Pedagogia do Oprimido (1968) é a terceira mais citada em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento feito no Google Scholar pelo site Nexo, que ainda faz uma radiografia da vida e da obra do educador, mostrando que não existe uma política nacional de inclusão de seus conceitos na educação brasileira - o que é uma pena, aliás.

PARA VER

Ainda Paulo Freire. Para quem prefere vídeos no YouTube, plataforma que tem sido bastante utilizada no debate político, vale ver o vídeo do canal Meteoro Brasil sobre quem NÃO É Paulo Freire, já que o educador teve poucas chances de fazer algo pela educação brasileira porque, normalmente, estava sendo perseguido.

Edição: Brasil de Fato