O discurso de austeridade e os cortes em saúde e educação com o argumento de economia nas contas públicas virou água depois que a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro autorizou, na última semana, a abertura de uma comissão para analisar um pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB).
Dois dias depois, o prefeito do Rio recriou as secretarias de Turismo e de Meio Ambiente. Crivella designou o Partido Progressista (PP) para comandar as duas pastas. O loteamento do PP no governo inclui a nomeação de pelo menos 10 cargos de confiança em cada uma das pastas.
Na Câmara, o PP tem dois vereadores, Marcelino D’Almeida, que votou a favor da abertura de processo contra o prefeito, e Vera Lins, que votou pelo arquivamento da denúncia. Ao recriar as secretarias para evitar o impeachment, Crivella disse que o apoio do PP é “coisa divina”.
Para o vereador Tarcísio Motta (Psol), além da pouca habilidade e a adesão à “velha política” de distribuição de cargos em troca de apoios, Crivella faz nomeações com base em indicações de vereadores e depois as exonera sem aviso prévio.
“Ele faz isso especialmente com quem eventualmente vota contra ele. Nos últimos dois anos, a prefeitura sempre usou a desculpa de falta de caixa para deixar de investir na saúde, na educação e até deixou de pagar os servidores das clínicas da família”, comentou o parlamentar, que vota a favor do impeachment.
Como alguns grupos na Câmara interpretam o impeachment não apenas como um processo de caráter técnico, mas também resultado de desgaste político, a percepção é que o cenário para Crivella piorou depois da incapacidade diante das enchentes e desabamentos que deixaram 10 mortos na última segunda-feira (8).
Parcialidade
O vereador Reimont (PT) é autor de um requerimento para que o vereador Paulo Messina (PRB) deixe a comissão de três parlamentares que vai analisar a denúncia contra Crivella. Além da falta de isenção por ser do mesmo partido do prefeito, Messina é secretário da Casa Civil na prefeitura e voltou à Câmara apenas para tentar barrar o pedido de impeachment.
A comissão que avalia a denúncia terá 90 dias para elaborar um relatório pedindo o prosseguimento ou o arquivamento do processo. O destino de Crivella, então, será votado, por todos os vereadores da Casa. Na admissão da denúncia, no início de abril, 35 parlamentares votaram pelo impeachment e 14 votaram contra.
Na denúncia de um fiscal da Secretaria Municipal de Fazenda, Crivella é acusado de crime de responsabilidade por renovar indevidamente e sem licitação contratos de publicidade com duas empresas, em dezembro do ano passado. O prejuízo gerado aos cofres públicos foi de R$ 20 milhões, segundo o pedido de impeachment.
Edição: Mariana Pitasse