O número de pessoas em situação de pobreza aumentou 6,3% na Argentina no segundo semestre de 2018. Hoje, cerca de 32% da população do país é pobre, segundo números divulgados pelo Instituto Nacional de Censo e Estatística (Indec) no último dia 29. Atualmente são, 12,9 milhões de argentinos em situação de miséria — um em cada 3 —, com 2,9 milhões de novos pobres nas zonas urbanas do país.
Comparado ao primeiro semestre de 2018, antes do pedido de empréstimo de US$ 56,3 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e as políticas econômicas aplicadas pelo governo, os números apontam que, em seis meses, a pobreza aumentou 4,7% e o número de pessoas que vivem abaixo da linha de extrema pobreza aumentou 1,8%, segundo a Pesquisa Permanente de Domicílios do Indec.
Os dados da pesquisa oficial vão de encontro ao relatório elaborado pelo Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina que analisa a pobreza multidimensional no país. Isto é, a pesquisa não considera apenas o fator renda, mas o acesso à moradia, alimentação, educação, saúde, trabalho e serviços básicos. “O enfoque da pobreza multidimensional está baseado em [acesso a] direitos. Isto significa estar submetido a privações e exclusões sociais que não se limitam à renda”, informou o responsável pela pesquisa realizada pelo observatório ao jornal argentino Página 12.
O relatório informa que os resultados do final de 2018 são os piores encontrados desde 2010, quando começaram a ser divulgadas estas estatísticas. Os dados apresentados pela UCA por faixa etária são alarmantes. Segundo a pesquisa, quase metade das crianças (46,7%) menores de 14 anos é pobre na Argentina e 10,9% (isto é, uma a cada 10) vive abaixo da linha da pobreza. Entre os jovens de 15 a 29 anos, 38,9% são pobres e 8,4% vivem na miséria extrema. Na população ativa (entre 30 e 64 anos), a pobreza afeta 27,6% da população argentina, e mais 5,4% que vivem abaixo da linha da extrema pobreza.
O índice de miséria é maior na região Nordeste do país, onde chega a 40,4%. Na região da Grande Buenos Aires, onde está a capital do país, o nível se mantém dentro da média, com 31,3%, segundo dos dados do Indec.
Origens
O aumento da vulnerabilidade na sociedade argentina tem sido constantemente criticada pelos movimentos populares, sindicatos e organizações sociais do país.
Eles denunciam que a precarização da vida da população se deve às políticas econômicas neoliberais implementadas pelo governo de Maurício Macri (do partido Cambiemos), que levaram ao aumento da inflação, além da desvalorização do peso argentino frente ao dólar, impactando no preço de produtos e serviços de primeira necessidade, como transporte, alimentação, gás e conta de luz.
No último dia 4, milhares de argentinos saíram às ruas do país para protestar contra as políticas de ajuste do governo, contra os “tarifaços”, como são chamados os sucessivos aumentos no custo de vida, e as demissões massivas. Os sindicatos que convocaram a manifestação se preparam para a realização de uma greve geral contra a política macrista.
Os movimentos exigem, entre outras pautas, o decreto da Lei de Emergência Alimentar para resolver o problema da fome e má nutrição no país.
Desde setembro de 2018, organizações sociais têm organizado as chamadas ollas populares [panelas populares, em português], com distribuição de sopa e alimentos e doações para os restaurantes comunitários para remediar a questão e denunciar o agravamento da pobreza.
*Com informações do Página 12
Edição: Luiza Mançano