Desde a assinatura do acordo já são mais de 400 lideranças assassinadas
Durante cinco dias, a III Missão de Solidariedade da Via Campesina, composta por 20 delegados/as provenientes de 15 países de quatro continentes, esteve em Bogotá, Cauca, Tolima e Cundinamarca e mantiveram reuniões com organizações camponesas, povos indígenas e comunidades negras. Também se reuniram com instituições do Estado, com os ex-combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), representantes do Congresso da República, embaixadas, observadores internacionais, entre outros, com a tarefa de reunir depoimentos e dados para produzir um relatório para a comunidade internacional e fazer o seguimento dos Acordos de Paz pactuados em 2016 entre o Governo da Colômbia e as FARC.
A assinatura desse acordo, firmado em 26 de setembro de 2016, foi comemorado em todo mundo, pois se tratava de pôr fim a mais de 50 anos de guerra. Esse conflito têm origem na luta pela reforma agrária que opõe trabalhadores rurais e proprietários de terras desde os anos de 1920. As hostilidades se intensificaram a partir da década de 1960, quando aumentam os assassinatos de trabalhadores a mando dos fazendeiros em conivência com o Estado, fato que obriga os camponeses a se organizarem em armas para se defenderem, formando entre outras forças, as FARC.
Esse conflito, o mais longo das Américas, já deixou mais de 200 mil mortos, regiões inteiras devastadas e mais de 6 milhões de refugiados, sem, entretanto, resolver o problema da terra.
Os resultados apresentados à Missão da Via Campesina são extremamente preocupantes. O que se observa é que em sua maior parte os acordos não vem sido cumpridos por parte do governo colombiano. Desde a vitória para a presidência em 2018 de Iván Duque (aliado do ex-presidente Álvaro Uribe, um ferrenho opositor ao processo de paz) não há avanços significativos em nenhum dos pontos acordados em Havana (Cuba).
O relatório Via Campesina da aponta ainda um aumento brutal das violações aos direitos humanos, com prisões ilegais, perseguição às lideranças das organizações sociais e criminalização dos protestos sociais. Desde a assinatura do acordo já são mais de 400 lideranças assassinadas por grupos paramilitares e pela repressão das forças militares como o Esquadrão Móvil Anti-distúrbio (ESMAD).
A III Missão faz um chamado ao governo da Colômbia para que se reative a mesa de diálogo com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e também com as demais forças insurgentes a fim de se estabelecer a paz estável e duradoura, e conclama a comunidade internacional para que efetive a solidariedade e exija severas apurações do governo colombiano às denuncias de violações aos direitos humanos.
Edição: Vivian Virissimo