Nos EUA

Os generais e o capitão | Militares divergem de Bolsonaro sobre agressão à Venezuela

Para assegurar a confiança de Trump, Bolsonaro sinaliza apoio a uma intervenção armada dos EUA

Brasil de Fato | São Paulo |

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Jair Bolsonaro, capitão retirado das Forças Armadas, agora "comanda" seus antigos generais
Jair Bolsonaro, capitão retirado das Forças Armadas, agora "comanda" seus antigos generais - Mauro Pimentel/AFP

A posição do Estado brasileiro em relação à Venezuela é considerada reveladora sobre os dilemas da alta cúpula das Forças Armadas, que desde 1º de janeiro se vê subordinada a um "capitão" -- situação inusitada no âmbito do Exército. Em visita aos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) alinhou-se ao discurso belicista do presidente Donald Trump contra o governo de Nicolás Maduro e reforçou a contradição interna do governo. 

“Trump repetiu que todas as hipóteses estão na mesa. O que ele conversou comigo reservadamente, me desculpem, mas eu não poderia conversar com vocês”, disse o brasileiro a jornalistas depois de uma reunião reservada com o presidente estadunidense nesta terça-feira (19). Bolsonaro também elogiou publicamente o poder econômico e bélico dos EUA e acrescentou, ao citar a crise na Venezuela: "Podemos fazer grandes coisas juntos". 

Para reforçar os conflitos, o chanceler Ernesto Araújo demonstrou irritação ao ficar de fora da reunião com Trump -- além dos dois presidentes e seus respectivos tradutores, somente o filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) participou da conversa.

O tom adotado por Bolsonaro não teria agradado aos generais da ativa do Exército. A alta cúpula militar é contra uma intervenção armada na Venezuela, e fala-se até em “ruptura” com o governo caso o presidente siga apoiando a ação defendida pelos Estados Unidos.

Os generais brasileiros avaliam que uma intervenção armada no país vizinho teria consequências graves para o Brasil, aumentando o fluxo de migração e desatando conflitos na região -- até agora, considerada uma zona de paz. 

Na reserva, também há resistência ao apoio bélico do Brasil a uma intervenção dos Estados Unidos na Venezuela. O próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que foi adido militar na Venezuela, já se declarou contrário a qualquer medida que não seja diplomática contra o governo de Nicolás Maduro.  

"Grotesco"

O governo venezuelano reagiu às declarações de Bolsonaro e Trump. O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da Venezuela acusou os dois presidentes de fazerem “apologia à guerra”. “Resulta grotesco ver dois chefes de Estado como responsabilidades internacionais fazer apologia da guerra, sem qualquer vergonha, em flagrante violação à Carta das Nações Unidas”, afirmou a chancelaria em Caracas.  

Bolsonaro retorna ao Brasil nesta quarta-feira (20). A imprensa internacional repercutiu negativamente a visita do presidente brasileiro aos Estados Unidos. Enquanto Trump apenas sinalizou um possível apoio à intenção do Brasil ingressar à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Bolsonaro concedeu aos Estados Unidos o uso da Base de Alcântara (MA), autorizou de forma unilateral o fim da exigência de visto para turistas estadunidenses e se comprometeu em abrir mão do tratamento diferenciado que recebe na Organização Mundial do Comércio (OMC), como país em desenvolvimento. 

Edição: Daniel Giovanaz