Uma pesquisa do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag) aponta que 55,4% dos equatorianos avaliam negativamente o governo do presidente Lenín Moreno. Este é o pior percentual de aprovação do mandatário desde que ele assumiu o cargo, em maio de 2017.
Segundo o estudo, divulgado na última quarta-feira (13), mais da metade das pessoas que foram ouvidas afirmaram que Moreno faz um mau governo à frente do país, enquanto 43,6% disseram aprovar a condução de seu mandato até agora. Em uma pesquisa semelhante feita pelo Celag em novembro de 2018, 61% dos equatorianos aprovavam a gestão de Moreno e apenas 38% rechaçavam o presidente.
Além disso, 60,7% dos equatorianos disseram que a economia do país piorou no último ano, enquanto apenas 6% acharam que houve uma melhora. Para 32,8% das pessoas consultadas, a situação econômica no país permanece igual.
Segundo Franklin Ramírez, professor no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador (FLACSO), um dos motivos que explicam a baixa popularidade de Moreno é o fato de existir hoje no país a “sensação de um desgoverno, de um mal governo, de má condução do aparato público”.
Ramírez explica que, de 2018 para cá, “cresceram as cifras de insegurança, além dos problemas econômicos. Não se vê que o aparato de um governo ativo, dinâmico, tentando resolver os problemas das pessoas. O país está acostumado com um certo estilo de governo ativo, presencial, dinâmico”.
Em um cenário hipotético de uma nova eleição neste momento, apenas 11,7% votariam em Moreno, enquanto 24% optariam por um candidato indicado pelo ex-presidente equatoriano Rafael Correa, antecessor de Moreno e com quem ele rompeu após iniciar seu mandato. Segundo a pesquisa, a popularidade do ex-mandatário cresceu 7 pontos percentuais desde a última pesquisa. Além disso, 61,3% das pessoas avaliaram positivamente a gestão de Correa.
Para chegar a esses resultados, o Celag ouviu 2.006 pessoas entre os dias 25 de fevereiro – 5 dias após Moreno anunciar o fechamento de um empréstimo bilionário com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – e 10 de março. A margem de confiança é de 95%.
FMI
No dia 20 de fevereiro, Moreno anunciou o fechamento de um empréstimo com o FMI no valor de US$ 4,2 bilhões. O pacote de recuperação econômica inclui ainda outros US$ 6 bilhões de organismos multilaterais.
Segundo Ramírez, a reaproximação com o FMI também pesou como um fator negativo. “A sociedade ainda não conhece os termos desse acordo. O neoliberalismo está sendo implementado de modo autoritário aceleradamente. No último ano, o giro de políticas pró-mercado é evidente. Isso também afetou a percepção sobre o prestígio do governo de Moreno. Essa não foi a agenda eleita em 2017”, afirma.
O governo alega que o empréstimo foi feito para conter o agravamento da dívida pública do país, que viu sua produção local de petróleo encolher 3,4%. Além disso, durante 2018, os investimentos externos no Equador caíram 0,5%, um dos fatores que fizeram com que o país crescesse apenas 1,5%, metade dos 3% registrados em 2017.
Para o professor, no entanto, o acordo irá servir para “acelerar os processos de flexibilização trabalhista, incrementar as tentativas de abertura comercial com o Grupo de Lima e com os Estados Unidos, e, seguramente, haverá uma aceleração das privatizações. Tudo isso impacta nos níveis de vida do país e no aumento dos números relacionados à pobreza e à desigualdade”.
Ina Investment Corporation
Pesa também sobre Moreno a suspeita de manejar fundos de uma empresa offshore no Belize. Segundo uma investigação divulgada também em 20 de fevereiro pelo portal equatoriano La Fuente, o mandatário possui ligação com a empresa Ina Investment Corporation, criada pelo seu irmão em 2012, quando Moreno ainda era vice-presidente.
Offshore é o nome dado a empresas abertas em territórios onde há menor tributação em comparação ao país de origem, que podem ser utilizadas para evasão fiscal ou mesmo lavagem de dinheiro. Localizado na costa leste da América Central, o Belize é considerado um paraíso fiscal.
A Ina Investment Corporation é suspeita de manejar contas no Balboa Bank, do Panamá. As contas teriam sido usadas para fazer ao menos duas transferências bancárias para a compra de um apartamento na Espanha, usado por Moreno.
O resultado da investigação contraria as posições tomadas publicamente pelo mandatário, que em mais de uma ocasião criticou a abertura de empresas em paraísos fiscais. Em 2017, o presidente chegou a realizar uma consulta para proibir que funcionários do Estado fizessem operações com esse tipo de empresa.
Edição: Vivian Fernandes