SEGURANÇA

É preciso trabalhar cultura de paz e justiça social nas escolas, dizem especialistas

Redução de gastos na educação e armamento não combatem casos como de Suzano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Militarização das escolas não é a solução para crimes como de Suzano, segundo especialistas
Militarização das escolas não é a solução para crimes como de Suzano, segundo especialistas - Rovena Rosa/Agência Brasil

O massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), nessa quarta-feira (13), gerou medo e pânico não apenas em quem presenciou o ataque. O ato, que deixou ao todo dez mortos, promoveu comoção nacional e discussões a respeito da violência em escolas no país.

Grades, câmeras de seguranças, policiamento e até armamento de funcionários e professores são apontadas como soluções para reforçar a segurança em unidades educacionais. O senador Major Olímpio (PSL-SP) afirmou que a tragédia teria sido evitada se os funcionários da escola estivessem armados. No entanto, na avaliação de especialistas em segurança e educação ouvidos pelo Brasil de Fato, ideias como essa -- assim como a flexibilização do porte de armas, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) -- estão na contramão de medidas que visam combater o problema da violência na raiz.

Segundo Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a escola precisa trabalhar a cultura da paz e da justiça social no seu cotidiano. Ele explica que medidas repressoras não combatem as diferentes formas de discriminação e a marginalização de jovens que são considerados “problemáticos” na escola.

"Tem que enfrentar as discriminações, desencorajar a postura dos alunos que acabam embarcando na onda de grupos que disseminam o ódio e que infelizmente encontram respaldo inclusive nos atores políticos. Qual problema desse caso? Quando o ódio encontra a arma, ele encontra um veículo de execução, e resulta nesse caso como de Suzano, como foi a tragédia de Realengo e Goiânia”, diz.

Durante o tiroteio, a merendeira da Escola Estadual Professor Raul Brasil fez uma barricada com freezer para salvar os alunos. Pediu para que todos os estudantes ficassem em silêncio e deitados no chão para que os atiradores não soubessem que eles estavam ali. Daniel Cara acredita que, se os funcionários e professores estivesse armados, a tragédia seria maior. 

A coordenadora pedagógica Marilena Ferreira, morta dentro da escola durante o ataque, defendia o porte de livros. “A militarização das escolas e o discurso pró-armamento transformaria essa tragédia maior que Columbine (EUA). Acredito que a coordenadora pedagógica da escola que foi assassinada continua nos ensinando que o melhor caminho para o país é a resolução pacífica de conflitos de escola democrática, dominada pela educação e não militarização”, comenta cientista político. 

O caso de Suzano mostra a complexidade da discussão sobre violência nas escolas. Familiares revelaram a imprensa que os atiradores Luiz Henrique de Castro, 25 anos, e Guilherme Taucci Monteiro, 17, eram ex-alunos da escola, sofreram bullying, tiveram uma criação sem estrutura familiar e vinham participando de grupos neonazistas.

Para Ariel de Castro Alves, especialista em infância e juventude e segurança pública, e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), o combate ao bullying e às discriminações deve ser algo central nas escolas. 

“A exclusão social e a marginalização dos alunos devem gerar preocupação. Muitas vezes na escola pública, quando o aluno problemático deixa de comparecer, [o fato] é comemorado. [É preciso] saber por que a escola não tem sido atrativa, se esse aluno está com problemas familiares, ou envolvido com drogas e com atos infracionais. Tudo isso está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente“, completa.

Alves também chama atenção pra necessidade de se pensar em medidas preventivas para reforçar a proteção das escolas que não seja pela via do policiamento, como profissionais de segurança preparados para lidar com o ambiente escolar, controle de entrada e saída nas unidades e ronda no entorno. Segundo ele, o corte de recursos públicos destinados à educação e a ampliação do acesso às armas defendida pelo governo de Bolsonaro podem tornar crimes como Suzano mais recorrentes nas escolas.

“O próprio presidente da República se manifestou que se gasta demais com educação no Brasil, na sequência o ministro da Fazenda defendeu o corte dos recursos conforme a previsão constitucional e prevê a facilidade do acesso as armas com o decreto. Casos como esse de Suzano poderão se multiplicar, se em casa tiver uma ou quatro armas. Pequenos conflitos entre estudantes e professores podem gerar novas tragédias”, ressalta.  

Já ocorreram no Brasil ao menos sete casos semelhantes ao de Suzano. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou que os procedimentos de segurança em todas as 5 mil e trezentas escolas serão revisados e que está em estudo um projeto para reforço à segurança nas escolas mais vulneráveis.

O prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, afirmou nesta quinta-feira (14) que vai reforçar a segurança não só na Escola Estadual Prof. Raul Brasil, como nos demais colégios do município. Será instalado um departamento destinado à ronda escolar, programa anti-drogas e visita da Polícia Militar às unidades.

Edição: Aline Carrijo