Venezuela

Maduro: ataque ao sistema elétrico foi feito com tecnologia que só os EUA dominam

Ministério Público venezuelano abre investigação contra o deputado Guaidó por suspeita de participação em sabotagem

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Presidente Nicolás Maduro explicou como ocorreu a sabotagem no sistema elétrico do país
Presidente Nicolás Maduro explicou como ocorreu a sabotagem no sistema elétrico do país - Foto: Palácio de Miraflores

“O ataque foi realizado com uma tecnologia que só os EUA dominam, a detectamos e foi contida. Estamos trabalhando para restabelecer o serviço elétrico”, informou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na noite dessa segunda-feira (11), em pronunciamento em cadeia nacional. Cerca de 95% da eletricidade já foi restabelecida na capital venezuelana. No interior do país, cerca de 80% da energia já foi retomada, de acordo com números oficiais.

O presidente detalhou como foram feitos os principais ataques contra o sistema elétrico. Segundo Maduro, o primeiro ataque foi cibernético, no cérebro da central hidroelétrica de Guri, na última quinta-feira (7), às 16h54. O segundo ataque teria sido eletromagnético e foi realizado remotamente, com aparelhos móveis. Já a terceira sabotagem foi física, causada por uma explosão da subestação elétrica de Alto Prado, na zona leste da região metropolitana de Caracas.

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A versão do governo foi negada pelo líder opositor Juan Guaidó, que disse que seria impossível haver um ataque cibernético, pois a central de Guri contaria com um sistema analógico. “Todos os técnicos concordam que isso é impossível por uma razão simples: é um sistema analógico”, escreveu em sua conta de Twitter.

No entanto, o engenheiro elétrico, e também opositor, José Aguilar, esclareceu. “Existem pseudo-especialistas dizendo que Guri não poderia ser hackeada porque o seu sistema seria analógico, em consequência obsoleto. Falso. É um sistema de última geração, com tecnologia digital de anillado anti-hacking”, escreveu em suas redes sociais.

Um artigo publicado pela revista Forbes, dos Estados Unidos, escrito pelo especialista em guerra cibernética e sistemas de big data  Kalev Leetaru, mostra que o ataque não é uma ideia descabida. “Em 2015, explorei o conceito de 'guerra cibernética', no qual os governos recorreram cada vez mais de forma isolada ou como parte de uma guerra híbrida para enfraquecer um adversário antes da invasão convencional ou para efetuar uma transição em um governo estrangeiro”, afirmou o especialista.

No caso da Venezuela, Leetaru argumenta que “a ideia de um governo como os Estados Unidos interferindo remotamente em sua rede elétrica é realmente bastante realista”. E que esse tipo de operação não exige grandes esforços. “As operações cibernéticas remotas raramente exigem uma presença significativa no solo. Dada a preocupação de longa data do governo dos EUA com o governo da Venezuela, é provável que os EUA já mantenham uma presença profunda na rede nacional de infraestrutura do país, tornando relativamente simples interferir nas operações da rede”.

Justiça para os venezuelanos

O presidente venezuelano anunciou, também nesta segunda-feira (11), as primeiras prisões de suspeitos em ações de sabotagem. “Capturamos dois indivíduos que trataram de sabotar o sistema de comunicações da hidrelétrica de Guri, em Guayana [região administrativa que abriga os estados de Bolívar, Amazonas e Delta Amacuro]. Estão presos e estão falando. Espero que a Justiça venezuelana atue não apenas em relação aos autores materiais, mas também aos autores intelectuais”, disse Nicolás Maduro.

O mandatário pediu máximo esforço da Justiça e caracterizou a ação como um crime contra os direitos humanos. “O Estado venezuelano tem que atuar. Tem que haver justiça na Venezuela. Como chefe de Estado constitucional que sou, creio profundamente que houve graves crimes contra os direitos humanos do nosso povo, contra a paz e a estabilidade. Houve um grave crime de traição à pátria”, destacou.

Maduro responsabilizou ainda o presidente dos EUA e seus aliados venezuelanos. "Donald Trump, o principal responsável do ataque cibernético, disse que todas as possibilidades estão sobre a mesa contra a Venezuela. Todos os seus porta-vozes na Venezuela o repetem. Uma dessas opções é a guerra elétrica? Sim, é uma das opções".

Também destacou que os aliados dos EUA na Venezuela serão investigados. “Somente através da justiça consolidaremos a paz. E chegou a hora da Justiça. Justiça contra os responsáveis desse ataque criminoso contra o sistema elétrico venezuelano, seus responsáveis internos”, disse Maduro.

Nesta terça-feira (12), o procurador-geral da República, Tarek William Saab, comunicou que o Ministério Público abriu uma investigação para averiguar “a suspeita que de o deputado Juan Guaidó poderia estar entre os autores intelectuais da sabotagem contra o sistema elétrico venezuelano”. Outra investigação já está andamento contra Guaidó, por “usurpação do cargo do Poder Executivo” da Venezuela.

Fim de diálogo entre Venezuela e EUA

Outra fato marcante neste início de semana na Venezuela é o anúncio oficial feito pelo governo venezuelano sobre o fim do diálogo formal com os EUA.

"O governo bolivariano da Venezuela dá por terminadas as conversações com os Estados Unidos para o estabelecimento de escritórios de interesse. Os funcionários da diplomacia estadunidense devem abandonar o território venezuelano nas próximas 72 horas", diz o comunicado oficial.

O objetivo dos escritórios de interesse seria o de tramitar questões administrativas, comerciais e relacionadas a vistos migratórios, já que foram interrompidas as relações diplomáticas e foram desativados os consulados e embaixadas nos dois países.

Edição: Vivian Fernandes