Nesta sexta-feira, 8 de março, milhares de brasileiras saíram às ruas para celebrar o Dia Internacional de Luta das Mulheres. Sob o lema “Pela vida das mulheres, somos todas Marielle”, elas tomaram as ruas do país para protestar contra o desmonte da Previdência, o aumento no número de feminicídios e os retrocessos do governo Bolsonaro (PSL), além de celebrar o legado da militante e vereadora Marielle Franco. Assassinada no Rio de Janeiro (RJ) em 14 de março de 2018, a vereadora tornou-se uma inspiração para trabalhadoras que lutam contra injustiças em todo o país. Até hoje o crime continua impune.
A mobilização começou na madrugada. Duzentas militantes do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) ocuparam uma unidade da mineradora australiana Mirabela Nickel em Ipiaú (BA), para protestar contra o modelo predatório de exploração de níquel. As mulheres também denunciaram os riscos de contaminação do Rio de Contas, que abastece a região e fica a menos de 1 km de uma barragem de rejeitos da empresa.
Em Florianópolis (SC), o sol mal havia raiado quando começou a primeira roda de conversa com mulheres da Via Campesina no Mercado Público, região central. Elas discutiram os impactos das propostas de Bolsonaro para a Previdência Rural e articularam formas de resistência aos latifúndios e ao uso intensivo de venenos nas lavouras. No interior do estado, em Chapecó (SC), mulheres indígenas deram o tom da mobilização na praça Coronel Bertaso.
No Rio Grande do Norte, agricultoras distribuíram 15 toneladas de alimentos produzidos nos assentamentos do estado, e em Porto Alegre (RS) foram organizados painéis sobre feminicídio, violência contra a mulher e direitos reprodutivos durante toda a manhã.
À tarde, ocorreram as maiores mobilizações, e a memória de Marielle veio à tona de maneira mais intensa -- contrastando com palavras de ordem contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
São Paulo
Na capital paulista, o ato do 8 de Março reuniu, de acordo com a organização, mais de 50 mil pessoas. O protesto começou no vão-livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista, no final da tarde desta sexta-feira, e seguiu em passeata até a praça Roosevelt, na região central da cidade.
Simone Nascimento, militante do movimento negro, esteve presente e falou sobre a motivação de estar na luta.
“O 8 de Março e outras datas que reúnem as mulheres para irem para a rua em ação, em ato e movimento, têm sido decisivos na resistência popular brasileira. Nós acabamos de eleger um presidente extremamente antidemocrático, que tem aplicado uma agenda de retirada de direitos, como nós vamos ver agora com a reforma da Previdência. É uma agenda totalmente desmoronadora dos direitos conquistados pela classe no último período. Aqui começa uma luta interminável e incansável", afirmou.
O protesto teve como um dos alvos principais a reforma da Previdência, defendida por Jair Bolsonaro, que retira direitos dos trabalhadores e aposentados, prejudicando especialmente as mulheres, que já ganham menos que os homens e têm uma jornada de trabalho maior. A advogada Neuzely Fernandes falou sobre o assunto.
"Nós precisamos de uma reforma que garanta, amplie os direitos das pessoas. Essa reforma [de Bolsonaro], não só restringe, como violenta direitos já adquiridos com muita força e com muita luta", disse Neuzely.
"As mulheres precisam ter seus direitos garantidos. E não é esse governo, nem esse Congresso, que está preparado para fazer essa reforma do jeito que a gente precisa, e do jeito que a gente merece", completou a advogada.
Outras capitais
Rio de Janeiro
A concentração foi na Candelária. Mais de 50 mil pessoas tomaram as ruas, segundo a organização.
Mônica Francisco, deputada estadual (PSOL), e Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius, de 14 anos, morto pela polícia em um operação na Maré, também estavam presentes no ato do Rio. “Estou aqui em nome do meu povo favelado, para dizer que a gente tem vez, tem voz, e temos lugar”, disse Bruna.
A viúva de Marielle, Mônica Benício, enalteceu o legado da companheira e explicou por que participa das manifestações de 8 de março. “Estamos aqui pela vida e pela liberdade de todas as mulheres, pelo direito de exercer o livre acesso ao nosso corpo da forma como nós quisermos”, disse.
Recife
Com cerca de 15 mil o cortejo de protesto no dia Internacional de Luta das Mulheres saiu da praça do Derby, em Recife. O tema do ato deste ano foi “Marielles: livres do machismo, do racismo e pela Previdência pública".
No início do ato, aconteceram diversas rodas de conversas sobre temas que são bandeiras de luta do feminismo, por exemplo, o fim da violência contra as mulheres, a desigualdade de salários e o feminicídio.
Fortaleza
A concentração do ato foi na praça da Justiça e reuniu, ao todo, cerca de cinco mil pessoas. As manifestantes pediram Justiça para o caso Marielle e liberdade para o ex-presidente Lula.
O protesto denunciou o crescimento dos casos de violência contra mulheres no Ceará.
Porto Alegre
Na Esquina Democrática, na capital gaúcha, o ato reuniu centenas de manifestantes e recebeu o nome de “Ato pela Vida das Mulheres Trabalhadoras”.
Foram feitas críticas à retirada de direitos da reforma da Previdência e ao feminicídio. As agricultoras, em grande número no ato, protestaram contra os ataques do governo Jair Bolsonaro que tenta criminalizar o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e propõe regras para dificultar a aposentadoria no campo.
Salvador
Mais de 64 instituições que lutam pelos direitos das mulheres participaram do ato religioso e da marcha que saiu da Praça da Sé, no Centro Histórico de Salvador (BA), em direção ao bairro do Campo Grande.
O cortejo contou com uma homenagem a Marielle Franco, representada em uma bandeira gigante com fundo amarelo e o rosto da militante carioca.
De acordo com a organização do evento deste ano, a eleição de Bolsonaro representa uma guerra contra as mulheres, e também contra os pobres, as pessoas negras e LGBTQ+.
Edição: Mauro Ramos