Em um estudo realizado pela fundação SOS Mata Atlântica na extensão do rio Paraopeba, foi constatado que ele não possui condições de vida ou de uso. O rio é um dos principais afluentes do rio São Francisco, e foi morto pela Vale após rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro. Segundo o relatório produzido independentemente pela ONG, a água do Paraopeba apresenta contaminação por metais pesados por manganês, cobre, ferro e cromo em níveis muito acima do máximo fixado em legislação, sendo o último um elemento cancerígeno.
Foram percorridos 305 km do rio entre os dias 31 de janeiro e 9 de fevereiro, e dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim, e 12, péssimo. Além disso, 112 hectares de florestas nativas foram devastados, sendo que 55 estavam bem preservados. De acordo com Malu Ribeiro, especialista em água da SOS Mata Atlântica, a morte do rio Paraopeba traz um impacto social, econômico e cultural, alterando todo o ecossistema da região, o que pode ser irreversível.
“É um rio que não dá para ser chamado de rio. É um corpo de rejeito com volume denso e nenhuma condição de vida aquática, a mata e a paisagem totalmente degradada e sem nenhuma presença de fauna. É um silêncio estarrecedor que só era quebrado com o barulho dos helicópteros de resgate procurando as vítimas.”
A expansão do impacto pode chegar a ser amortecida pelo reservatório de Três Marias, onde forma-se o rio São Francisco pelo encontro do Paraopeba com o rio Pará. O reservatório poderia reter os rejeitos no Velho Chico, segundo a especialista. Porém, a água que passar por lá pode ficar sob influência desses metais pesados, então é necessário o monitoramento para saber se ocorrerão alterações na qualidade da água.
Quando se trata de consequências da contaminação, existem os danos de valor material, como o fim de atividades econômicas e do abastecimento dos municípios ribeirinhos, mas também o dano imaterial. Segundo Malu, o povo indígena Pataxó, que residem na região, se fixou ali por acreditarem ser um solo sagrado, associado ao remanso das águas. Ou seja, os Pataxós foram afetados, inclusive, espiritualmente.
Peixes, anfíbios, aves e plantas endêmicas foram dizimados, o que cria um outro ecossistema de uma fauna vetor de doenças, como mosquitos transmissores de febre amarela, zika vírus, chikungunya e dengue. Sem os predadores naturais, a população desses mosquitos deve crescer.
“É difícil mensurar em que escala isso vai afetar a população do Brasil. O estado de Minas Gerais abriga as principais bacias hidrográficas do país, que abastecem tanto a região central quanto as regiões sudeste e sul. Isso não se limita a Minas Gerais. É preciso atenção em uma atividade que pode criar um efeito dominó de impacto ambiental.”
A intenção da pesquisa é ser acrescida pelos órgãos ambientais oficiais como a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Ibama, e servir de base para que o Ministério Público e órgãos judiciais possam punir os culpados, remediar os danos e dar uma resposta às comunidades afetadas.
Edição: Mauro Ramos