Conhecido por apoiar mais de 4 mil projetos culturais desde o seu início, em 2003, entre filmes, peças de teatro, espetáculos de dança e música, o Petrobras Cultural, maior programa de patrocínio do setor no país, vai encerrar o incentivo à produção artística e provocará milhares de desempregos no Brasil.
O anúncio foi feito na última semana pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), pelo Twitter. A assessoria de imprensa da Petrobras confirmou que está revisando sua política de patrocínios, “em alinhamento ao novo posicionamento de marca da empresa, com foco em ciência e tecnologia e educação, principalmente infantil”.
A decisão sobre os cortes no Petrobras Cultural segue a linha que Bolsonaro e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, vêm impondo à empresa, com a política de desinvestimentos e venda de ativos, como parques de refinarias que geram lucro para a estatal.
As atividades culturais e criativas são responsáveis por 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e geram mais de um milhão de empregos formais diretos, segundo estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.
Desemprego
Uma das principais consequências do desmonte do Petrobras Cultural será a perda de milhares de postos de trabalho no setor de cultura. Produtor de cinema e diretor da República Pureza Filmes, Marcello Ludwig Maia conta que cada filme realizado por sua empresa gera em torno de 100 empregos diretos e outros 200 empregos indiretos.
“Essa suspensão é um retrocesso imenso. O Petrobras Cultural nasceu junto à retomada do cinema brasileiro, ajudou a produzir centenas de filmes e a estabelecer uma relação com a produção cultural brasileira de absoluta parceria. É injustificável, porque o volume de orçamento utilizado nesse patrocínio é muito pequeno. O prejuízo que se terá para a produção cultural brasileira é imensamente maior do que o valor em si”, afirma o produtor.
Marcello lembrou ainda que o revanchismo de Bolsonaro para colocar a população contra a classe artística, mas que afeta também o emprego de motoristas, iluminadores, cozinheiros, maquiadores e uma infinidade de profissionais que trabalham com cultura, está gerando insegurança também com os patrocínios do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
No ano passado, o BNDES abriu um rigoroso edital público para financiar projetos culturais em todo o país. Apesar de o edital fazer parte do governo anterior, até hoje a gestão de Bolsonaro não divulgou a lista de contemplados para produzirem seus projetos em áreas como audiovisual, dança, música, teatro etc.
Revanchismo
A tentativa de jogar a população contra artistas e produtores, que geram milhares de empregos no Brasil, mira em um dos setores menos favorecidos pelo dinheiro público. Além de não existir mais, o Ministério da Cultura tinha menos de 1% dos recursos públicos em todo o orçamento anual do governo federal. Já no Petrobras Cultural, os contratos ativos de governos anteriores somavam R$ 450 milhões. Mas só no ano passado, o lucro líquido da Petrobras foi muito superior a esse valor, superando os R$ 23 bilhões.
Com o fim do Petrobras Cultural, eventos importantes e que levavam a imagem do Brasil para o exterior correm o risco de não acontecer, como é o caso do Festival do Rio. Filmes pequenos que não conseguem chegar ao público sem apoio, mas também produções maiores, como foi o caso de "Tropa de Elite", também serão prejudicados.
Edição: Mariana Pitasse