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Bombeiros de Brumadinho apresentam concentração de alumínio e cobre no sangue

Quatro profissionais possuem alterações nos exames laboratoriais; médica alerta possível quadro de contaminação

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Efetivo de 140 bombeiros trabalha no resgate de corpos das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG).
Efetivo de 140 bombeiros trabalha no resgate de corpos das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). - Foto: Mauro Pimentel/AFP

Quatro bombeiros que trabalham nas buscas de corpos das vítimas da tragédia de Brumadinho, onde em 25 de janeiro uma barragem de minério da Vale se rompeu e vitimou 169 pessoas, apresentaram concentração de metais em seus exames de sangue.

A contaminação pelos rejeitos da mineração, presentes na avalanche de lama que soterrou as regiões do Córrego do Feijão e de Parque da Cachoeira, é uma das principais preocupações da população local. Por estarem em contato direto com a lama contaminada, os responsáveis pelo resgate e identificação dos corpos apresentam possibilidade ainda maior de intoxicação.

Três semanas após o rompimento da barragem, o governo estadual de Minas Gerais confirmou, em nota publicada na última terça-feira (19), que três bombeiros possuem alumínio no corpo. Um quarto profissional teve a presença de cobre identificada por meio de exames.

Monitoramento

Segundo o governo, desde a tragédia, os bombeiros envolvidos na atividade de busca e salvamento passam por um protocolo de monitoramento de saúde, com a dosagem de metais no sangue e urina.

“Cabe esclarecer que a alteração nesses parâmetros não significa intoxicação aguda por esses metais, e essas pessoas permanecem assintomáticas; e seguindo o protocolo de monitoramento de sua saúde. É esperado que após a interrupção da exposição, os níveis destes metais no organismo sejam normalizados”, diz a nota oficial.

Na opinião de Marina Abreu Corradi, médica da Família e Comunidade e professora do departamento de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), é cedo para afirmar que os bombeiros estão livres de contaminação.

“Dizer que eles não estão contaminados é complicado porque além dos exames de sangue, é preciso acompanhar a clínica [o que apresentam e sentem para além dos exames] das pessoas expostas. Alguns sintomas aparecem à médio e longo prazo, então é preciso acompanhar por muitos anos, por toda a vida, e às vezes até em próximas gerações”, explica Corradi, que prestou trabalho voluntário na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Parque da Cachoeira, logo após a ruptura da barragem. 

“Essas alterações já são preocupantes e precisam ser acompanhadas de formas próximas por meio de exames laboratoriais e da clínica dos bombeiros e pessoas expostas”, ressalta a especialista, que também atuou na tragédia de Mariana há mais de três anos, quando a barragem do Fundão, da Samarco, se rompeu.

 

Bombeiros se lavam após buscas por vítimas soterradas, em Brumadinho (MG). | Foto: Douglas Magno/AFP

De acordo com a médica,  pessoas que vivem próximas às áreas afetadas também sofrem riscos altos de contaminação por metais, que pode ocorrer por meio da água, do solo, do ar e da alimentação, já que há muita agricultura familiar na região.

Integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP), Corradi afirma que cada indivíduo responde à intoxicação de forma diferente. Fatores como estado nutricional, metabolismo, idade e quantidade de lama a qual a pessoa foi exposta pesam na resposta.

Riscos da contaminação

Segundo Marina, os principais sistemas que podem ser afetados pela contaminação são os sistemas nervoso, gastrointestinal, cardiovascular e o sistema renal, principalmente. No caso dos bombeiros, que apresentaram concentrações de alumínio e cobre, há ainda outras consequências.

“A maioria das alterações por contaminação de alumínio são neurológicas, queda de cabelo, irritabilidade, em alguns estudos aparece o envelhecimento precoce, a osteoporose. Outros estudos ainda não concluídos, dizem que há possibilidade do desenvolvimento de doenças como o Alzheimer”, elenca a especialista.

No caso da contaminação pelo cobre, o risco é do desenvolvimento de doenças hepáticas. "Doenças no fígado como hepatite e cirrose. Pode levar até a uma insuficiência hepática a longo prazo”, alerta.

 

Bombeiros tiram excesso de lama de cão que atuou nas buscas. | Foto: Douglas Magno/AFP

Tragédia repetida

O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, causou a morte de 19 pessoas e atingiu centenas de pessoas direta e indiretamente. O crime socioambiental da Vale em Brumadinho tem um número superior de vítimas fatais - até o momento,169 pessoas morreram e 141 estão desaparecidas.

Marina Corradi relata que atualmente, em Mariana, muitos moradores da região afetada apresentam quadros de doenças respiratórias crônicas, dermatológicas e até mesmo neurológicas.

“Em Mariana está comprovada a existência de pacientes que apresentam doenças relacionadas ao contato com a lama. Brumadinho segue a mesma linha, em uma dimensão um pouco maior porque são mais atingidos, a área atingida é mais extensa, e apresenta a mesma necessidade de acompanhamento e de possibilidade de contaminação, por parte de pessoas que trabalham ou vivem ali próximo”.

Para ela, que também socorreu vítimas do terremoto no Haiti, em 2010, também é necessário que os profissionais que seguem atuando no local estejam bem preparados para lidar com os atingidos. Reportagem do Saúde Popular, publicada em 2 de fevereiro, mostrou que moradores de Brumadinho já começaram a apresentar sintomas de intoxicação.

“É muito importante, inclusive, que eles [profissionais] estabeleçam esse nexo causal entre o que o paciente está sentindo, o que está apresentando, e o contato com a lama, com os rejeitos e a possível contaminação”, frisa a especialista.

:: Moradores de Brumadinho expostos à lama começam a apresentar sintomas de contaminação :: 

A médica que teve contato direto com as vítimas das duas tragédias causadas pela Vale, lamenta a irresponsabilidade da mineradora. “Foi um momento muito triste. Estive em Mariana há três anos e não esperava jamais ter que viver novamente essa situação, tão próximas uma da outra, de forma tão similar. É inaceitável que três anos depois, os órgãos responsáveis não tenham assumido a postura de controle dessas barragens, para evitar esse tipo de desastre, inadmissível”.

Nesta quinta-feira (21), de acordo com informações do governo de Minas Gerais, a operação de resgate contou com um efetivo de 140 bombeiros trabalhando, sendo 111 do próprio estado e 29 de outras regiões.

Edição: Cecília Figueiredo