O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta sexta-feira (8) que seu governo está preparado para levar adiante um diálogo que abra caminho para um entendimento entre os venezuelanos, mas sem impor uma agenda fechada.
Na quarta-feira (6), os governos de México, Uruguai, Bolívia e dos 15 países da Comunidade do Caribe (Caricom) assinaram um documento chamado "Mecanismo de Montevidéu", pedindo diálogo entre governo e oposição venezuelana, mas respeitando a questão da autodeterminação dos povos.
Por outro lado, os países da União Europeia (UE), organizados no recém-criado Grupo de Contato Internacional, exigiram a convocação de eleições presidenciais no país.
Os representantes da UE e os assinantes do Mecanismo de Montevidéu se reuniram nessa quinta-feira (7), em Montevidéu, para discutir o papel da comunidade internacional no diálogo. Na conferência, foi estabelecido um Acordo Comum, incorporando a proposta da União Europeia de novas eleições. No entanto, por divergências em relação a este ponto, a Bolívia e a Comunidade do Caribe não ratificaram o acordo, por considerar que ele desacata a Constituição da Venezuela.
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Na entrevista coletiva de hoje, o presidente Nicolás Maduro afirmou que não "aceitará imposições", mas que está disposto a conversar com os representantes do Grupo de Contato Internacional para chegar a um entendimento comum. O mandatário também reforçou que líderes da oposição venezuelana já não querem realizar eleições, como reivindicavam no início da crise política.
"Nesta semana, a Assembleia Nacional aprovou um documento chamado 'Estatuto de Transição'. Apesar de a Assembleia estar em desacato, esse documento serve para consumo interno da oposição. Já não pedem eleições dentro de 30 dias e, sim, dentro de 1 ano. Se nós convocássemos uma eleição hoje, para ser realizada no prazo de 30 dias, eles não aceitariam", afirmou o presidente.
O mandatário considera que o documento é uma tentativa de desacatar a Constituição do país. "Com essa medida estão derrocando a Constituição. Estão passando por cima do próprio artigo 233 que invocam", expressou.
A Assembleia Nacional, liderada por Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela, inicialmente havia exigido a realização de eleições em 30 dias a partir de uma interpretação do artigo citado por Maduro, que trata da "falta absoluta do presidente". Na terça-feira (5), a mesma assembleia reformulou o prazo inicial para a realização de um novo pleito para 12 meses. Nesse período, pela proposta, haveria um governo de transição comandado por Guaidó.
No entanto, os poderes da Assembleia Nacional da Venezuela estão suspensos por desacato desde março de 2017. Isso aconteceu quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) declarou que três deputados da oposição não poderiam ser empossados por serem investigados por crimes eleitorais, mas o parlamento desrespeitou a decisão do Judiciário.
Maduro também destacou que, nas últimas reuniões dos Diálogos de Paz, realizadas na República Dominicana no início de 2018, o governo se dispôs a oferecer todas as garantias exigidas por seus opositores para chegar a um consenso sobre adiantar as eleições. "No último momento, Júlio Borges, o chefe da delegação opositora, levantou-se da mesa e não assinou o acordo", relembrou o presidente.
Na época, os mediadores do diálogo, entre eles o ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, confirmaram a informação de que a oposição e o governo venezuelano chegaram a um acordo, mas a oposição não quis assiná-lo.
Ajuda humanitária
Durante a entrevista coletiva, Maduro rebateu as principais acusações contra seu governo e voltou a afirmar que seu país não precisa de ajuda humanitária.
"A ajuda humanitária foi convertida em show para justificar um intervenção militar no país. É um show barato também para humilhar os venezuelanos, para nos humilhar. Bloquearam quase 20 bilhões de dólares no mundo, roubaram nosso ouro [confiscado pelo Reino Unido], depois tiraram do bolso 20 milhões de dólares [em ajuda humanitária] para dizer aos mendigos: 'estendam a mão'. E colocam isso, uma migalha", afirmou com veemência.
Os Estados Unidos haviam anunciado que enviariam 20 milhões de dólares em ajuda humanitária à Venezuela. Entretanto, o governo de Donald Trump não informou que tipo de ajuda será nem que tipos de produtos pretende enviar. "Se querem ajudar a Venezuela, liberem nosso dinheiro que está sequestrado, que pertence ao nosso país", contestou Maduro.
Dois milhões pela paz
Maduro também afirmou aos meios de comunicação internacionais presentes na coletiva que a população venezuelana está recolhendo assinaturas para um abaixo-assinado a ser enviado ao governo Trump, no qual os venezuelanos repudiam a ingerência estrangeira.
"Em menos de 24 horas, mais de dois milhões de pessoas assinaram a Carta pela Paz que enviaremos aos Estados Unidos", disse o mandatário.
O abaixo-assinado está disponível na histórica Praça Bolívar, localizada no centro histórico de Caracas, onde os venezuelanos podem ter acesso, ler e assinar o documento.
Edição: Luiza Mançano