As 10 vítimas fatais do incêndio que atingiu o Centro de Treinamentos do Flamengo começaram a ser identificadas durante a tarde desta sexta-feira (8). Jovens goleiros, zagueiros, atacantes vindos do Rio de Janeiro e, principalmente, de outros estados compartilhavam o sonho de seguir carreira no futebol profissional. Eles treinavam juntos nas categorias de base do clube no Centro de Treinamento Ninho do Urubu, localizado em Vargem Grande, zona Oeste do Rio.
As chamas começaram na madrugada, quando os atletas e os funcionários ainda dormiam no alojamento. Dois meninos com ferimentos leves, Cauan Emanuel Gomes Nunes, 15 anos, e Francisco Diogo Bento Alves, 15, foram transferidos para um hospital particular. O estado deles é considerado estável. Já Jonathan Cruz Ventura, de 15 anos, está em estado "gravíssimo" segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foi para o Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, também na zona Oeste, onde será submetido a cirurgia. Ele teve cerca de 30% do corpo atingido por queimaduras de terceiro grau no rosto, tórax e braços.
O alojamento que abrigava os jovens jogadores não tem o certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros, a chamada Carta de Aprovação. A assessoria dos bombeiros esclareceu, por meio de nota, que a Carta de Aprovação é a documentação que "atesta a existência e o funcionamento dos dispositivos contra incêndio previstos pela legislação".
A nota ressalta ainda que outros aparatos de vistoria como o alvará de funcionamento e o habite-se são de responsabilidade da prefeitura. O município confirmou que a área de dormitório, dentro de um contêiner, não tem licenciamento. O alvará, com validade até 8 de março deste ano, consta que no local do incêndio, na verdade, é um estacionamento. A prefeitura deve abrir um processo de investigação.
Incêndio
Um dos sobreviventes descreveu o início do incêndio dentro do seu quarto: "O incêndio começou no meu quarto. O ar-condicionado começou a pegar fogo e eu saí correndo. Graças a Deus consegui correr e estou vivo", disse Felipe Cardoso, do time sub-17 em entrevista ao site "Coluna do Flamengo".
Apesar das informações preliminares apontarem um curto circuito no aparelho ar-condicionado do alojamento, ainda não há uma conclusão oficial. O vice-governador do Rio, Claudio Castro, esteve no Ninho do Urubu nesta sexta-feira (8) e confirmou a principal suspeita, mas disse que as investigações trabalham com todas as hipóteses da ocorrência. Inclusive de uma possível interferência da rede elétrica externa devido ao temporal da última quarta-feira (6). A Polícia Civil está em fase final da perícia mas pode levar alguns dias para divulgar o laudo.
"O governador está desde cedo acompanhando tudo. A gente está aqui para demonstrar solidariedade mas também acompanhar e ter um esclarecimento. Não pode uma tragédia dessa ficar sem respostas", afirmou o vice-governador.
Vítimas
Castro disse ainda que a Secretaria de Desenvolvimento Social está dedicada a facilitar a vinda de famílias de outros estados para o Rio de Janeiro em aeronaves. A maioria dos mortos são meninos de Minas Gerais, Sergipe e Santa Catarina. "O sentimento lá dentro [do Ninho do Urubu] é de que o clube perdeu 10 filhos", lamentou Castro.
O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, declarou luto do time carioca e afirmou que esta é a maior tragédia dos mais de 120 anos de história do clube. "O Flamengo também está colaborando com as autoridades para que a causa do incêndio possa ser apurada. Ninguém mais do que nós tem interesse que isso ocorra", disse Landim.
O Instituto Médico Legal (IML) divulgou oito nomes de vítimas fatais até o momento. São eles: Arthur Vinícius, que faria 15 anos neste sábado (9) e morava em Volta Redonda com a família, no Sul Fluminense. Paulo Henrique da Silva, primo do zagueiro Werley, do Vasco, morava no Ninho do Urubu mas era de Minas Gerais. Jorge Eduardo Santos, lateral-esquerdo, também mineiro. Bernardo Pisseta e Vitor Isaías, de Santa Catarina. Christian Esmério, goleiro, de Madureira, tinha sido convocado para jogar na seleção brasileira. Athila Paixão, atacante, de Sergipe. Também Samuel Thomas Rosa, de São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
"É muito triste a dor porque a gente se coloca no lugar. Hoje mesmo, se fosse meu filho no alojamento eu poderia estar na mesma situação. Todos eles tem esse sonho", desabafou a mãe de um dos meninos que joga na categoria de base do Flamengo, mas não estava no hora do incêndio, Marli Paulino. "Nós moramos aqui próximo, então ele vai e volta para casa", conta.
Edição: Mariana Pitasse