Um forte temporal que começou na noite desta quarta-feira (6) no Rio de Janeiro resultou na morte de pelo menos seis pessoas. As zonas Sul e Oeste foram as mais afetadas pela chuva que registrou ventos de até 110km/h, derrubou ao menos 170 árvores, seis postes, além de diversos pontos de deslizamentos de terra, vias que continuam interditadas por conta de alagamentos, desabamentos e enchentes.
A recomendação durante a noite de quarta-feira (6) era de que as pessoas não saíssem de casa ou do local de trabalho. Por volta de 22h, o município decretou estágio de crise, com equipes de emergência espalhadas pela cidade tentando amenizar os impactos causados pelo temporal. O volume de chuva foi maior que a média do mês de fevereiro na Rocinha (164 mm), Vidigal (161,2 mm) e Jardim Botânico (142, 6 mm). Em Copacabana e na Barra da Tijuca, o volume superou a média histórica do mês.
O governador Wilson Witzel (PSC) sobrevoou áreas atingidas e depois declarou que a tragédia é resultado de décadas de abandono e também de ocupações desordenadas na cidade em áreas de risco. "Desde Guaratiba até o início da Niemeyer, o cenário na orla é de abandono. É preciso ter um plano diretor da cidade para tirar as pessoas da área de risco e ter urbanização mais adequada", disse. "O abandono não é de 2016 pra cá. É de décadas. Pouco se fez para evitar que construções irregulares avançassem", completou o governador em uma coletiva de imprensa.
Vítimas
Equipes dos bombeiros ainda fazem buscas por vítimas em São Conrado, na zona Sul, onde um ônibus foi atingido por uma árvore após a quebra de uma barreira na avenida Niemeyer. O motorista conseguiu sair do veículo e foi socorrido, duas mortes foram confirmadas. A avenida deve continuar interditada ao longo do dia. No final desta tarde (7), o ônibus foi rebocado, mas os trabalhos para desobstruir a via da lama, dos entulhos e árvores podem adentrar a madrugada. A Defesa Civil também deve fazer uma vistoria no local do deslizamento.
Duas pessoas da mesma família morreram soterradas no bairro Barra de Guaratiba, localizada na zona Oeste. Cinco casas na região que ainda correm risco de deslizamento foram isoladas nesta quinta-feira (7) pela Defesa Civil. Uma mulher também morreu soterrada Rocinha e outra no Vidigal, na zona Sul. A prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias.
Transtornos
Na volta pra casa, a jornalista Ana Leticia Ribeiro encontrou transtornos na estação do BRT Mato Alto, na zona oeste. "As marquises do ponto de ônibus estavam desabando, vários fios no chão, foi caótico. O BRT também alagado, um monte de gente na marquise esperando a chuva abaixar, vidros quebrados, fiquei com medo de dar curto circuito nas instalações elétricas", conta.
Ela ainda relata que demorou quatro horas para chegar em casa, no bairro Freguesia, em Jacarepaguá, também zona oeste, onde encontrou um cenário de destruição. "Na minha rua 3 árvores caiam, uma inclusive atingiu a fachada de uma casa, não dava nem pra pessoa sair".
O técnico de edificações, Tiago Dias, teve que subir a pé cerca de 3km para chegar ao trabalho nesta manhã (7) por conta da interdição na Estrada do Joá, em São Conrado. Um trecho da ciclovia Tim Maia chegou a desabar por causa do temporal. "Chegando onde eu trabalho, tinha dezenas de muros caídos, postes, cabos de alta tensão jogados no chão, parecia que tinha passado um furacão. Uma enxurrada de lama invadiu o terreno, sujou tudo, invadiu escritório, garagem das casas, deixou gente ilhada", descreve.
"Ainda estamos sem energia elétrica e pouco sinal de telefone, tubulações da CEDAE vazando água, barreira de contenção que caiu, ainda é bem complicada a situação", completa Dias. Falta água, luz e sinal telefônico em alguns bairros. As consequências da forte chuva também ficam evidentes no registro fotográfico da moradora Maria das Graças Firmino, da Rocinha. Um valão de lixo próximo da sua casa transbordou.
Apesar dos inúmeras tragédias na cidade do Rio, no site da prefeitura não consta nenhum investimento para prevenção de enchentes este ano. Os últimos dados são de 2018, quando foi destinado mais de R$14 milhões para Manutenção de Sistemas de Manejo de Águas Pluviais das Bacias Hidrográficas.
No primeiro ano do governo Crivella, em 2016, foram gastos R$31 milhões só em manutenção. Em dois anos, o orçamento de controle de enchentes reduziu cerca de R$68 milhões.
Edição: Mariana Pitasse